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sábado, 20 de dezembro de 2014

Estrela da Manhã

 
 
 
 
 

Escutando seus passos pisando o gelo frio
Sob uma redoma de árvores sem cor e sem brilho,
As nuvens oprimem com sua cor pardacenta
E obscurecem com indolência o negro trilho
Aonde como neblina a melancolia assenta.
 
O ar é tão frio que queima os pulmões
E torna a respiração em vapor evanescente,
Agride o corpo sem dó e sem piedade
E prega partidas amargas cruéis à mente,
Sadicamente enfraquecendo a já débil vontade.
 
Assim sofre o viajante só e desprevenido
Que se vê apanhado pelas garras do Inverno;
A noite será tão bela e estrelada,
Num firmamento que é vasto e eterno
Sobre um manto de branco e de nada.
 
Receando não conseguir continuar sua marcha,
Cai de joelhos, simplesmente olhando o céu
Perguntando-se quando será o seu fim
Que cobrirá seu corpo com seu negro véu,
Questionando-se porque teria de desaparecer assim.
 
Até que naquele instante de puro receio,
Mesmo antes do frio despertar da aurora
Entre as árvores surge uma luz intensa,
Naquela desesperada e fatídica hora
Invadindo as sombras com sua alva presença.
 
Seria um cândido anjo que viera para o salvar
Ou apenas um truque cruel que o frio criou?
Com receio e alguma curiosidade decide aproximar-se
E ignorar as pegadas que seu desespero deixou,
Contemplando tal beleza que era pura catarse.
 
Mesmo estando tão perto e à sua frente
Era como se aquela luz ali não estivesse,
A distância era impossível de medir
E ele receava que logo o amanhecer viesse
Para cruelmente aquela magnífica luz suprimir.
 
Ali continuava ela, contrastando com as trevas,
Chamando-o e convidando-o ao esquecimento,
Fazendo-o recordar-se de todas as suas tristezas
Que já não lhe causavam tanto sofrimento
Nem abalavam as suas antes débeis certezas.
 
De emoção e de júbilo chorou, prostrando-se na neve,
Adorando o chão que aquela divina luz tocava
Seria a Estrela da manhã que descera para o salvar
E com invisíveis mãos de seda seu rosto tocava,
Ou seria apenas ao Morte que o viera buscar?
 
Contudo seu corpo enchia-se de vida e de calor,
Eclipsando as sombras de seus medos com rapidez;
O frio era apenas uma aragem que por ele passava
E tudo à sua volta era percebido com nitidez
Enquanto aquela celestial presença brilhava.
 
Até que  o céu começou a clarear
E os poucos a bela luz foi-se extinguindo,
Deixando um ténue rasto de calor no ar
À medida que ia subindo e subindo,
Como um anjo que ao céu tem de voltar.
 
Até ao fim da sua vida
Aquela luz o viajante jamais esqueceu,
Deu-lhe forças para continuar a lutar e a viver,
Guardando na memória aquele momento só seu
Em que uma luz fez o próprio Inverno esmorecer.
 
 
 

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

The Water




The pain and the hurt
Is all around me, sweet torture,
There’s so much I cannot nurture,
I cannot even see, I am blind
Of the tears that keep arriving.

Although the tears water my eyes,
These teardrops are trapped in my denial,
I feel only a desert within me,
Even if the water keeps running free
In front of my wounded eyes.

There is only darkness in my core
And I fear the sun to lighten my soul,
Too afraid to see the truth revealed,
Transparencies that I always concealed
While I was asleep for a lifetime.

The water is pouring all around me
But it seems to be only oily drops
That can hurt my skin sometimes
And make me soak along my spine
Until I feel winter in my bones.

My reflection is glowing beneath my feet
But I dare not to look down,
In these waters I would only drown
As I’m not to breathe without support,
Too many times I had fallen before.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Castelos de Vidro





 


Num mundo meu, apenas meu,
Mundos sem fim posso criar,
Pedaços de terra e de céu
Onde minha mente pode penetrar.

Uma imaginação ingénua muito pode conceber
Quando a criança interior ainda não desapareceu;
Contudo os caminhos da vida acabarão por endurecer
E enfraquecer aquele vasto mundo que cedo nasceu.

Belos castelos de vidro pude construir,
Cintilantes sob a cálida luz matinal.
Pena que esses castelos terão de ruir
E tornarem-se cortantes como pedaços de cristal.

Ah, que saudades da liberdade de criança,
Quando tudo é maravilhoso e inspiração,
Dela resta apenas uma nostálgica lembrança
Dos sonhos que nunca mais surgirão.

O passado ainda tenta manter as fundações
Dos palácios que tanto amei criar,
Contudo o ríspido presente esbate as ilusões
Dos sonhos que a mente deseja acalentar.

Os jardins da alma poderão despontar,
Contudo a responsabilidade é omnipresente,
A cada dia é um novo despertar
Que nos acorda para a vida duramente.

De que adiante lutar contra corrente
E tentar à dura realidade escapar?
O escapismo pode deixar alguém doente
E a negação apenas tudo irá piorar.

Com lágrimas que hesitam em cair,
Assisto ao desmoronar dos castelos tão estimados;
Pedaço a pedaço bem que os tento reconstruir
Contudo ficarão sempre diferentes, desfigurados.

As sementes da loucura são perigosas,
Contudo o mundo cruel podem ocultar.
As cores da imaginação despontam como rosas
Que na infértil realidade acabarão por murchar.

 Por isso deixem minha perda chorar
Pelos castelos que não mais se erguerão,
Com aquela imponência de a respiração tirar,
E aquela poesia de enternecer o coração.