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sexta-feira, 14 de junho de 2013

Anjos Caídos








Caminhante de cinzentas estradas
Agredidas pelo frio do Inverno,
Folhas mortas pelo vento arrastadas,
Testemunhas de que o tormento é eterno.

Tão cedo me distraio com tudo em redor,
Envolto numa penumbra de neblina sombria,
É um enevoado espelho do meu interior,
Um livro volumoso de minha poesia.

A inspiração é do mais caprichoso que há:
Num segundo enche-nos de ideias brilhantes
E no próximo tudo tira e nada dá,
Restando resquícios de pensamentos cambiantes.

O pior que me pode acontecer
É fugir do meu mundo interior
Tal fuga far-me-á esquecer
O que antes criava com tanto amor.

Todo o sonhador tem suas crises
Nascidas do tédio e do pesar,
Tal como uma árvore sem raízes
Que sem luta  acabará por tombar.

Não sinto-me digna de envergar
O chapéu puído de tanto usado,
Um tesouro partilhado e sem par,
Merecido apenas pelo mais iluminado.

As minhas mãos não conseguem acompanhar
A velocidade de meus pensamentos errantes,
Falta a paixão para ao mundo apresentar
As palavras que deveriam ser cativantes.

Os meus mentores não são os vivos,
São aqueles que se foram há séculos atrás,
Foram heróis apaixonados e amantes lascivos
E inspiraram-me a acreditar que seria capaz…

Capaz de seguir as suas pegadas
Que marcaram o solo como ferro em brasa,
Deixaram um legado de coisas tão estimadas
Familiares e acolhedoras como minha casa.

Continuarei a escrevinhar sempre que conseguir,
Sem perguntar-me se irão ler ou comentar,
Afinal de contas não poderei abolir
O que comigo nasceu e acompanha meu respirar.

As ideias parecem bonitas em minha mente,
Contudo quando as transcrevo são medíocres, forçadas,
É um desapontamento que deixa-me impotente
Ao ler minhas linhas tão pobremente pensadas.

O fogo de Apolo ainda arde tenuemente,
Aguardando uma rajada que o vá atear,
Anseia por uma melodia que passe docemente
E incendeie o coração fraco de tanto bombear.

As noites e os dias seguem-se monotonamente
Sem um despertar que os encha de magia,
O sol e a lua surgem no céu, alternadamente,
Insistindo que busque em sua luz uma epifania.

Ah, como ser poeta é doloroso,
Um mendigo vagueando por becos de solidão,
Sentir o frio num peito dorido e choroso,
Quando o choro não acalma o ferido coração.

Tantas cicatrizes o tempo deixou
Que em amargas quadras se transformaram,
Destes filhos bastardos que o mundo rejeitou,
Porque perderam suas asas e se rebelaram.

Suas asas não são alvas como o amanhecer
E sim negras como a noite e o carvão,
Escurecidas pelas sombras do tortuoso ser
E pela loucura que levará  à extinção.