Postagens populares

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Frase do Dia V






« As religiões são caminhos diferentes convergindo para o mesmo ponto. Que importância faz se seguimos por caminhos diferentes, desde que alcancemos o mesmo objectivo? »
Mahatma Gandhi

 Desde os primórdios que o a crença num ser superior faz parte da vida do ser humano. É neste/nestes ser/seres superior/ superiores que é depositada a confiança que ser-se  protegido e guiado ao longo da vida, em direcção a um caminho de luz e evolução espiritual. 
 Praticamente todas as religiões baseiam-se em princípios semelhantes mas infelizmente todas procuram evitar-se umas ás outras. É aí que reside o cerne da questão: Para quê tanta intolerância entre as religiões se buscam o mesmo? Se houvesse apenas uma única religião, independentemente de qual fosse, sem dúvida que a riqueza dos povos seria bem menor, uma vez que haveria apenas uma única cultura. Existe imensa beleza num templo Budista ou Hindu, numa mesquita ou  numa igreja. Todas as orações de todas essas religiões são igualmente belas e profundas, plenas de espiritualidade. Não leva a nada assassinar pessoas de uma religião oposta apenas porque muitos dos seus seguidores são corrompidos pela maldade. Existem pessoas más mas também existem pessoas extremamente nobres em qualquer religião. Não importa se se adora Shiva, Deus ou Alá, uma vez que são todos a mesma entidade, sendo apenas representada de formas diferentes. Deus é apenas um mas vemo-lo de diversas maneiras. 
 Sejamos tolerantes e aprendamos essas diferentes formas de ver Deus sem preconceitos ou juízos de valor. Afinal de contas somos todos irmãos, matéria da mesma matéria.



terça-feira, 29 de janeiro de 2013

The Rain






Rain, such a musical word
So pure and so perfect
Every time I look outside
And it rains,
I see a different world
Spotted with pristine stains.

Rain, silent echo in the mind
Messenger from the spirit world
There is magic within you
When I hear you arrive
Drop by drop you fall
In your deepness I dive.

When I reach my hand
And feel the drops in my palm
I feel fresh and purified
I feel blessed and whole
Everything starts making sense
And I regain what sorrow stole.

Don’t underestimate the power
That is held by the rain
She may come so gently
But then become a flood
As fast as a river
As thick as the blood.

When I’m truly in blue
She cries along with me
Her tears are so real
As real as I feel
She is my company
With nothing to conceal.

Rain, you are liquid poetry
A song that never ends
Your lyrics are words
That no one can hear
Your cadence is music
So loud and so clear.

When she falls in my head
She blesses and baptizes me
All worries are washed way
And I fall in contemplation
Fears and worries become nothing
When I feel its sheer sensation.

I love the smell she takes
Every time she reaches the ground
It smells so dry and fresh
That I stand frozen in time
Shall I offer her a poem
Shall I offer her a rhyme?

domingo, 27 de janeiro de 2013

Um Adeus sob a Cerejeira








Visualizo cada memória que surge, lenta e suavemente,
A cada cair das pétalas das flores da cerejeira
Recordo o amor que surgiu calma e docemente
Quando a luz do sol em oiro se desfez
E os raios de luar floriram como o Lotus.

Revivo a cada segundo que passa, lento e doloroso
Os olhares que trocamos, incendiados de paixão,
A neve que caía graciosa naquele Inverno rigoroso
Em que nos encontrámos como ventos contrários,
Porém gémeos na intensidade do seu soprar.

Sentia medo dos perigos que meu destino assombrava
Por vezes mitigado pela tua protecção, sólido rochedo,
Perfeitos eram os momentos em cada gruta que nos abrigava
Até um novo amanhecer pleno de aventuras e promessas,
Naquela longa caminhava que nossos pés em chaga deixava.

Quando o mal ao nosso encontro vinha, inesperado,
Ofuscante era o brilho da tua espada cortante,
Cada movimento, cada golpe mortífero e controlado
Anunciava que eras um guerreiro pelos deuses escolhido
Que mil vezes te amaldiçoaram pela tua força.

Juntos vimos nossos rostos em lagos cristalinos reflectidos
Como perguntas mudas a um futuro fadado e incerto,
Juntos ficamos cegos pela força dos sentidos
Que nos juntava e separava a cada minuto,
Como as ondas do mar a embater nas rochas.

Juntos cavalgámos pelos prados de verde tecidos
E cruzávamos espadas numa luta a fingir,
Vimos os avisos nos carvalhos sábios e ressequidos,
No esvoaçar de suas folhas secas ao cair
Como o tempo que escoava na ampulheta da Vida.

Juntos cantámos hinos de dor e despedida
À beira da fogueira que mal aquecia nossos corpos,
O frio que nos assolava era morte e era vida,
Recordando-nos de quão breve era a estada
Num mundo onde os deuses brincam com nossas almas.

Agora jazo neste chão de pétalas, saudosa e triste
Com o carmim do sangue a manchar minhas vestes,
Despedimo-nos e logo teu inimigo com sua espada em riste,
Rasgou o meu ventre, terminando uma vida que nem começara
E deixando-me a agonizar, perdendo as forças aos poucos.

O vento consigo levará minhas últimas palavras murmuradas
E a terra tragará meu corpo que nela se fundirá,
Não regresses, por favor, com mil lágrimas amarguradas
E recorda com alegria as dádivas que partilhámos,
Nas águas serenas de um lago lá estarei
E quando a pálida lua emergir, de lá te olharei.





sábado, 26 de janeiro de 2013

O Valor do Tempo





                                    


 Conta-se que um jovem de uma aldeia no interior da China não dava nenhuma importância ao tempo. Sempre deixava tudo para depois, sempre se julgava novo demais para fazer qualquer coisa naquele momento, sempre alegava que o que mais tinha era tempo. E exatamente por ter muito, não o valorizava. Certo dia, porém, esse jovem se encontrou com um velho sábio que dizia ser uma pessoa feliz, pois soube muito bem aproveitar o seu tempo e, mesmo no fim de sua vida, o que ele mais fazia era valorizar o pouco tempo que ainda lhe restava. Curioso com tamanho disparate, o jovem perguntou:

– Senhor, por que você valoriza tanto o tempo? Poderia me dizer qual é o real valor dele?

O sábio, percebendo o interesse, respondeu:

– Para você entender o valor do tempo, vamos transformá-lo em dinheiro. Imagine que você tenha uma conta corrente e, a cada manhã, você acorde com um saldo de 86.400 moedas. Só que não é permitido transferir esse saldo do dia para o dia seguinte. Todas as noites, sua conta é zerada, mesmo que você não tenha conseguido gastar durante o dia. O que você faz?

– Eu gastaria cada centavo todos os dias, é claro! – respondeu convicto o jovem.

– Sim, gastaríamos cada centavo. Pois bem, todos nós somos clientes desse banco, que se chama tempo. Todas as manhãs, são creditados para cada um 86.400 segundos. Todas as noites, o saldo é debitado como perda. Não é permitido acumular esse saldo para o dia seguinte. Todas as manhãs, a sua conta é reiniciada, e todas as noites, as sobras do dia se evaporam. Não há volta. Você precisa gastar vivendo no presente o seu depósito diário. Invista, então, no que for melhor: na saúde, na felicidade e no sucesso! O relógio está correndo. Faça o melhor para o seu dia-a-dia. Para perceber o valor de um ano, pergunte a um estudante que repetiu de ano. Para dar valor a um mês, pergunte a uma mãe que teve o bebê prematuramente. Para perceber o valor de uma semana, pergunte ao editor de um jornal semanal. Para conhecer o valor de uma hora, pergunte aos amantes que estão esperando para se encontrar. Para você encontrar o valor de um minuto, pergunte a uma pessoa que perdeu um trem. Para perceber o valor de um segundo, pergunte a uma pessoa que conseguiu evitar um acidente. Para você aprender o valor de um milissegundo, pergunte a alguém que recebeu a medalha de prata na Olimpíada. Valorize cada momento que tem! E valorize mais porque você deve dividir com alguém especial o suficiente para gastar o seu tempo junto com você. Lembre-se de que o tempo não espera por ninguém. Ontem é história. O amanhã, um mistério. O hoje é uma dádiva. Por isso, é chamado presente!

O jovem ficou pensativo e ali mesmo decidiu viver o tempo intensamente, viver como se cada segundo fosse o último de sua existência. E conta-se que, graças a isso, esse jovem cresceu, fez fortuna, criou uma grande família, foi feliz e respeitado como uma pessoa que sempre soube dar o devido valor ao tempo.


Fonte: Gambare!

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Memories






Memories are treasures for us to keep
Although they can cut through so deep,
All the pictures parading in the mind
Are missing things that were meant to bind.

Remembering things that we hold dear,
Will become slippery and forever disappear,
Still they must not fade away, not now
As we keep living through them somehow.

Memories become aching moments of melancholy,
Entire oceans that keep us from reality,
We experience bliss that turns into our fears
And end up miserable, bursting into tears.

Remembering is the autumn in our lives,
Sad piano notes cutting like sharpest knives,
Tragic violin melody that cries like the rain
And ends the prelude that we we’ll never regain.

The roses those once were fresh and red
Will wither, rotting and hanging by a tread,
How cruel are the years that are passing by
And only bring feelings that that make us cry.


 Time won’t work according to our will
And bring back the past for us to feel,
All there is left is ashes and dust,
In our senses we can no longer trust.

All the memories will be gone with the tide,
Away from the shores that push us aside,
Those moments that we recall are just gone
And soon we realize we’re cold and alone.

We must remember while we still can
The dearest things that appeared and began,
When oblivion arrives everything will disappear,
The bittersweet past will be no longer clear.

Sons Inaudíveis







 Um rei mandou seu filho estudar no templo de um grande Mestre, com o objetivo de prepará-lo para ser uma grande pessoa. Quando o príncipe chegou ao templo, o Mestre o mandou sozinho para uma floresta. Ele deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever todos os sons da floresta. Quando o príncipe retornou ao templo, após um ano, o Mestre lhe pediu para descrever todos os sons que conseguira ouvir. Então disse o príncipe:
- Mestre, pude ouvir o canto dos pássaros, o barulho das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa batendo na grama, o zumbido das abelhas, o barulho do vento cortando os céus…
E ao terminar o seu relato, o Mestre pediu que o príncipe retornasse à floresta, para ouvir tudo o mais que fosse possível. Apesar de intrigado, o príncipe obedeceu à ordem do Mestre, pensando:
- Não entendo, eu já distingui todos os sons da floresta…
Por dias e noites ficou sozinho ouvindo, ouvindo, ouvindo… Mas não conseguiu distinguir nada de novo além daquilo que havia dito ao Mestre. Porém, certa manhã, começou a distinguir sons vagos, diferentes de tudo o que ouvira antes. E quanto mais prestava atenção, mais claros os sons se tornavam. Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz. Pensou:
- Esses devem ser os sons que o Mestre queria que eu ouvisse…
E sem pressa, ficou ali ouvindo e ouvindo, pacientemente. Queria Ter certeza de que estava no caminho certo. Quando retornou ao templo, o Mestre lhe perguntou o que mais conseguira ouvir.
Paciente e respeitosamente, o príncipe disse:
- Mestre, quando prestei atenção, pude ouvir o inaudível som das flores se abrindo, o som do sol nascendo e aquecendo a terra e da grama bebendo o orvalho da noite…
O Mestre sorrindo, acenou com a cabeça em sinal de aprovação, e disse:
- Ouvir o inaudível é ter a calma necessária para se tornar uma grande pessoa. Apenas quando se aprende a ouvir o coração das pessoas, seus sentimentos mudos, seus medos não confessados e suas queixas silenciosas, uma pessoa pode inspirar confiança ao seu redor, entender o que está errado e atender às reais necessidades de cada um.”

Fonte:Sabedoria Universal

A Dama Malvada e o Leiteiro Sábio








Uma vez, um homem muito rico estava vivendo em Benares, na Índia do Norte. Ele tinha uma filha que era uma das mais belas mulheres na cidade, sua pele era macia como pétalas de rosas, seu corpo era belo como uma flor de lótus, e seus cabelos tão negros como a noite, porém, infortunadamente, sua beleza era somente à flor da pele, porque, por dentro, ela era muito cruel.  Ela insultava seus serventes e até mesmo se deleitava em bater neles. Ela tornou-se conhecida como “ A Dama Malvada”.

Um dia ela desceu ao rio para seu banho, enquanto banhava-se, suas jovens serventes brincavam e espirravam a água. De repente se tornou escuro e uma forte tempestade de chuva caiu sobre elas. A  maioria das serventes e dos guardas correu. As jovens serventes falaram entre si, “Este pode ser o momento ideal para livrar-se da Dama Malvada de uma vez por todas!” Assim eles a abandonaram alí, ao largo. A tempestade tornou-se de mal a pior a medida em que sol se punha.

Quando as jovens serventes chegaram em casa sem a Dama Malvada, o homem rico perguntou-lhes, “Onde está minha preciosa filha?” Elas responderam, “Nós a vimos saindo do rio, mas desde então não a vimos mais. Não sabemos aonde ela foi.” O homem rico mandou seus parentes procurá-la, porém ela não foi encontrada em lugar algum. Nesse meio tempo a Dama Malvada havia sido arrastada correnteza  abaixo pela feroz enchente do rio.

Aconteceu exatamente de existir um santo homem vivendo na floresta próxima ao rio. Nesta área tranqüila ele tinha estado meditando por um longo período, até que chegou a desfrutar a felicidade interna de um elevado estado mental. Por causa desta felicidade, ele sentia-se bastante seguro de que havia deixado para trás os desejos mundanos.

Era mais ou menos  meia-noite quando a Dama Malvada, carregada pela violência das águas do rio, passava pela choupana do santo homem. Ela estava chorando e gritando por socorro. Quando a ouviu, o santo homem compreendeu que uma mulher estava em perigo. Então, ele pegou uma tocha, desceu para o rio, e a viu sendo arrastada ao longo. Ele mergulhou e a salvou, ele a confortou dizendo, “Não se preocupe, eu cuidarei de voce.”

Ele a carregou para dentro de sua choupana e acendeu o fogo para secá-la e aquecê-la e deu-lhe frutas para comer. Quando ela comeu o bastante, ele perguntou, “Onde você  mora? Como você caiu no rio? ” Ela então lhe falou sobre a tempestade e de como suas serventes a desertaram. Ele teve compaixão por ela e a deixou dormir em sua choupana pelas duas noites que se seguiram, enquanto ele próprio dormia ao relento.    

Quando ela recuperou suas forças, ele lhe disse que era tempo dela retornar à casa. Mas ela sabia que ele era o tipo do homem santo que jurou nunca viver com uma mulher como marido e mulher, e que foi por isso que ele dormiu ao relento e a deixou dormir em sua choupana.

E justamente para provar sua própria superioridade sobre ele, a Dama Malvada decidiu seduzi-lo levando-o a quebrar sua promessa religiosa. Ela recusou-se a ir embora enquanto não o induzisse pela astúcia a enamorar-se dela e usou das posturas, truques e bajulações que as mulheres aprendem. O santo homem não foi forte o bastante para resistir ao jeito tentador dela e poucos dias depois foi seduzido e quebrou sua promessa.

Começaram então a viver juntos na calma floresta como se fossem marido e mulher, ele perdeu a felicidade interna que havia adquirido através de anos de meditação.

Porém,  muito rápido a Dama Malvada tornou-se entediada com a vida na floresta pois sentia falta do barulho e da agitação da vida agitada da cidade. Tanto arrulhou, tanto persuadiu, que o convenceu, e eles mudaram-se para uma vila próxima.

De início, o santo homem a manteve com a profissão de leiteiro. Tempos depois, os aldeões chegavam e lhe pediam conselhos e logo entenderam que o fato de ouvi-lo lhes traziam boa sorte. Então começaram a chamá-lo de “Leiteiro Sábio,” e lhe deram uma cabana para morar.

Aconteceu que um dia a vila foi atacada por uma quadrilha de bandidos que roubaram todas as coisas valiosas e seqüestraram alguns dos aldeões, incluindo a Dama Malvada. Quando chegaram aos seus esconderijos na floresta dividiram seus saques e quando começaram a dividir os prisioneiros, o chefe dos bandidos se sentiu atraído pela grande beleza da Dama Malvada e a tomou para si como esposa.

Todos os demais prisioneiros foram logo libertados e quando retornaram à vila o Leiteiro Sábio perguntou o que aconteceu com sua esposa.  Eles disseram que ela fora mantida como esposa pelo bandido chefe. Ele pensou, “Ela nunca será capaz de viver sem mim e irá encontrar um jeito de escapar e vir para mim.”

Entendendo que a vila agora era azarada, todos os outros a deixaram,  mas o Leiteiro Sábio permaneceu em sua cabana, convencido de que sua esposa voltaria.

Eis que, pasmem,  a Dama Malvada adorou a excitada vida dos bandidos! Porém, preocupada que seu marido pudesse vir e levá-la de volta, pensava que poderia então perder todas as suas mais recentes luxúrias, e que seria mais seguro esconder-se dele. Ela pensou, “Vou mandar uma carta para ele, fingindo amá-lo  profundamente  e,  justamente como antes, vou usar meu poder de sedução para levá-lo à ruína só que desta vez ele irá encontrar sua morte e eu continuarei como a rainha do bandido!”

O Leiteiro Sábio acreditou em todas as palavras quando recebeu a  carta. Ele precipitou-se dentro da floresta e correu para o esconderijo da quadrilha de bandidos.  Chamou por ela e quando  apareceu ela lhe disse, “Oh meu senhor e mestre, estou tão feliz de lhe ver, não vejo a hora de escapar daqui consigo, mas agora não é um bom  momento, pois o bandido chefe poderia facilmente nos seguir e matar-nos. Portanto, esperemos até cair a noite.” Ela o levou para dentro, deu-lhe comida e o escondeu num armário.

O chefe dos bandidos estava bêbado quando retornou à noitinha. A Dama Malvada lhe perguntou, “Meu senhor e chefe, o que faria se visse agora o meu ex-esposo?” Ele gabou-se dizendo, “Eu bateria nele e o chutaria de um lado da sala para o outro. Onde está ele agora?” Ela respondeu, “Ele está mais próximo do que você pensa.  Na verdade, ele está aqui mesmo neste armário!” 



O bandido chefe abriu a porta do armário,  arrastou o Leiteiro Sábio e, exatamente como gabara-se, começou a bater e chutá-lo pela sala. Sua pobre vítima não chorou,  apenas resmungava – “Mal-agradecida odiosa. Traidora mentirosa.”

Era tudo o que ele dizia. Finalmente parecia que ele estava aprendendo uma lição – apesar de tão dolorosa!

Por fim, o bandido embriagado cansou-se de bater nele. Amarrou-o,  comeu seu jantar, e caiu na cama para dormir totalmente embriagado.

Na manhã seguinte, após curtir sua bebedeira, o bandido chefe acordou sóbrio e começou novamente a bater e a chutar sua indefesa vítima. Ainda assim o Leiteiro Sábio  não chorava,  mas continuava resmungando – “Mal-agradecida odiosa. Traidora mentirosa.”

O bandido pensou, “Por que este homem continua dizendo a mesma coisa o tempo todo, enquanto eu maltrato ele? E, vendo que sua esposa continuava ainda a dormir, ele perguntou ao Leiteiro Sábio o que significava aquilo. Este então respondeu, “Escute, eu vou lhe dizer. Eu era um santo homem da floresta, desfrutando pacificamente um alto estado de mente, quando uma noite ouvi esta mulher chorando ao estar sendo levada pelo rio por causa da tempestade. Eu salvei sua vida e a trouxe de volta sã e salva. Entrementes ela me seduziu e eu perdi toda minha calma e felicidade interna, fomos morar na vila e passei a levar uma vida muito comum. Então, você a raptou. Ela me mandou uma carta dizendo que  sofria  vivendo com você, e me pedindo para vir resgatá-la. Como você pode ver, ela me atraiu a este desastre me colocando em suas mãos. Por isso eu digo “ Mal-agradecida odiosa. Traidora mentirosa.”

O bandido chefe não era estúpido e pensou, “ Grande provedor este homem era, e mesmo assim ela o colocou nesta difícil situação. O que ela seria capaz de fazer comigo? Melhor seria acabar com ela de uma vez!”

Ele desamarrou o Leiteiro Sábio e o confortou dizendo, “ Não se preocupe, cuidarei de você.” Então ele acordou a Dama Malvada e lhe disse, “Minha querida, vamos matar este homem exatamente perto da sua própria vila.”  Assim, ele os levou à divisa da vila deserta. Pediu a ela para segurar seu ex-esposo e então sacou de sua enorme espada e a abaixou. Mas no último instante ele dividiu a Dama Malvada em duas metades!

Até mesmo alguém malvado como este bandido assassino pode mudar sua maneira de ser. Ele começou por cuidar de seu antigo rival até seu restabelecimento. Após alguns dias de descanso ele perguntou-lhe, “O que você vai fazer agora?”

O sábio homem respondeu, “ Não quero  mais viver como dono de casa. Quero voltar para minha velha floresta e meditar.”

O bandido disse, “ Eu gostaria também de ser ordenado e de aprender a meditar na floresta.” Após desfazer-se de suas mercadorias roubadas, ele foi viver na floresta tendo o  Leiteiro Sábio como seu mestre. Após muitos esforços, os dois alcançaram um alto estado de felicidade interna.
A moral da história é:  A sedução pode ser perigosa para ambos, homem e mulher.

Fonte: Mas Belas Histórias Budistas

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

O Guerreiro e o Mestre




                                           



Certo dia, um guerreiro muito orgulhoso, veio ver seu Mestre. Embora fosse muito famoso, ao olhar o Mestre, sua beleza e o encanto daquele momento, o guerreiro sentiu-se repentinamente inferior. Ele então disse ao Mestre:
- Porque estou me sentindo inferior? Apenas um momento atrás, tudo estava bem. Quando aqui entrei, subitamente me senti inferior e jamais me sentira assim antes. Encarei a morte muitas vezes, mas nunca experimentei medo algum. Porque estou me sentindo assustado agora?
O Mestre falou:
- Espere. Quando todos tiverem partido, responderei.
Durante todo o dia, pessoas chegavam para ver o Mestre, e o guerreiro estava ficando mais e mais cansado de esperar. Ao anoitecer, quando o quarto estava vazio, o guerreiro perguntou novamente:
- Agora você pode me responder porque me sinto inferior?
O Mestre o levou para fora. Era uma noite de lua cheia e a lua estava justamente surgindo no horizonte.
Ele disse:
- Olhe para estas duas árvores: a árvore alta e a árvore pequena ao seu lado. Ambas estiveram juntas ao lado de minha janela durante anos e nunca houve problema algum. A árvore menor jamais disse à maior: “Porque me sinto inferior diante de você?” Esta árvore é pequena e aquela é grande – este é o fato, e nunca ouvi sussurro algum sobre isso.
O guerreiro então argumentou:
- Isto se dá porque elas não podem se comparar.
E o Mestre replicou:
- Então não precisa me perguntar. Você sabe a resposta. Quando você não compara, toda a inferioridade e superioridade desaparecem. Você é o que é e simplesmente existe. Um pequeno arbusto ou uma grande e alta árvore, não importa, você é você mesmo. Uma folhinha da relva é tão necessária quanto a maior das estrelas. Simplesmente olhe à sua volta. Tudo é necessário e tudo se encaixa. É uma unidade orgânica: ninguém é mais alto ou mais baixo, ninguém é superior ou inferior. Cada um é incomparavelmente único.

Fonte: Shdo.com

Grande Espírito








Tocam os tambores num ritmo hipnotizante,
Cada toque é o bater do coração da Terra.
Os pés marcam compasso no chão seco,
Os braços agitam-se em volta da fogueira;
Esta dança enérgica é um ritual de adoração,
O som da flauta um chamamento, uma oração
Dando graças pelos milagres de cada dia.

 Ó Grande Espírito,
Abençoa minhas mãos calejadas pelo duro labor,
Dá-me coragem e força para caçar e proteger.
Inunda-me com a chuva celestial e cristalina.
Aquece-me com o sol que conforta e ilumina.
Ajuda-me a crescer, pois sou ainda tão pequeno.
Ajuda-me a ser humilde, pois sou apenas humano

Ó Grande Espírito,
Permite-me viver até alcançar a Sabedoria,
Que eu possua o conhecimento dos Antepassados,
Que eu consiga encontrar a serenidade e a comunhão
E possa inspirar o sagrado fumo do cachimbo da paz,
Que a minha voz não silencie e seja sempre sonante
Para que possa louvar-Te a plenos pulmões.

Anseio conhecer o meu interior como ninguém
Para conhecer o meu animal, meu guia espiritual.
Abençoada seja a coruja, intuitiva e sábia,
Abençoado seja o lobo, o batedor e professor
Bendita seja a raposa, observadora e silenciosa,
Abençoado seja o Urso, solitário e conhecedor,
Abençoada seja o Leão da montanha, líder e convicto,
Abençoado seja o Veado, gentil , paladino do perdão,
Abençoada a Lebre, que conhece e aprende com seus medos,
Bendito seja o Corvo, defensor da ordem e da harmonia,
Bendita sejaa Garça, serena e mestra na auto-reflexão,
Bendita seja a Tartaruga, singelo símbolo da Mãe Terra.

A Tua Voz é ouvida em todos os recantos,
No vento que sopra sobre a extensa pradaria,
No relinchar dos cavalos que livres correm,
No trovão que anuncia um frutífero dilúvio,
No canto dos grilos nas noites estreladas,
No murmurar da água no curso do rio,
No grito da águia sublime no voo rasante,

Honrarei e respeitarei a liderança do Xamã
E segui-lo-ei como Teu líder escolhido;
Orarei pela segurança de meus irmãos
E saudarei os espíritos que me rodeiam,
Pois um dia a eles me juntarei e serei imortal
Encontrando-me frente-a-frente Contigo,
E do Teu firme abraço finalmente desfrutarei.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O Falcão e o Cálice








Conta a lenda que certa manhã o guerreiro mongol Gengis Khan e sua corte saíram para caçar.

Enquanto seus companheiros levavam flechas e arcos, Gengis Khan carregava seu falcão favorito no braço, que era melhor e mais preciso que qualquer flecha, pois podia subir aos céus e ver tudo aquilo que o ser humano não conseguia enxergar.

Entretanto, apesar de todo o entusiasmo do grupo, não conseguiram encontrar nada.

Decepcionado, Gengis Khan voltou para seu acampamento. Mas, para não descarregar sua frustração em seus companheiros, separou-se da comitiva e resolveu caminhar sozinho.

Tinham permanecido na floresta mais tempo que o esperado e Gengis Khan estava cansado e com sede.

Por causa do calor do verão, os riachos estavam secos. Não conseguia encontrar nada para beber até que, enfim, avistou um fio de água descendo de um rochedo à sua frente.

Na mesma hora, retirou o falcão do seu braço, pegou o pequeno cálice de prata que sempre carregava consigo, demorou um longo tempo para enchê-lo e, quando estava prestes a levá-lo aos lábios, o falcão levantou voo e arrancou o copo de suas mãos, atirando-o longe.

Gengis Khan ficou furioso, mas era seu animal favorito, talvez estivesse também com sede. Apanhou o cálice, limpou a poeira e tornou a enchê-lo. Após outro tanto de tempo, com a sede apertando cada vez mais e com o cálice já pela metade, o falcão de novo atacou-o, derramando o líquido.

Gengis Khan adorava seu animal, mas sabia que não podia deixar-se desrespeitar em nenhuma circunstância, já que alguém podia estar assistindo à cena de longe e mais tarde contaria aos seus guerreiros que o grande conquistador era incapaz de domar uma simples ave.

Desta vez, tirou a espada da cintura, pegou o cálice, recomeçou a enchê-lo. Manteve um olho na fonte e outro no falcão. Assim que viu ter água suficiente e quando estava pronto para beber, o falcão de novo levantou voo e veio em sua direção. Gengis Khan, em um golpe certeiro, atravessou o seu peito do falcão, matando-o.

Retomou o trabalho de encher o cálice. Mas o fio de água havia secado.

Decidido a beber de qualquer maneira, subiu o rochedo em busca da fonte. Para sua surpresa, havia realmente uma poça de água e, no meio dela, morta, uma das serpentes mais venenosas da região.

Se tivesse bebido a água, já não estaria mais no mundo dos vivos.

Gengis Khan voltou ao acampamento com o falcão morto em seus braços.

Mandou fazer uma reprodução em ouro da ave e gravou em uma das asas: “Mesmo quando um amigo faz algo que você não gosta, ele continua sendo seu amigo”.

Na outra asa: “Qualquer ação motivada pela fúria é uma ação condenada ao fracasso”.

Nem sempre o que parece ser, realmente é.

Fonte: Tom Coelho

Humildade não tem Berço





No tempo em que não havia automóveis, na cocheira de um famoso palácio real, um burro de carga curtia imensa amargura, em vista das pilhérias dos companheiros de apartamento.

Reparando-lhe o pêlo maltratado, as fundas cicatrizes do lombo e a cabeça tristonha e humilde, aproximou-se formoso cavalo árabe que se fizera detentor de muitos prêmios, e disse, orgulhoso: – Triste sina a que recebeste! Não invejas minha posição em corridas? Sou acariciado por mãos de princesas e elogiado pela palavra dos reis! – Pudera! – exclamou um potro de fina origem inglesa: – como conseguirá um burro entender o brilho das apostas e o gosto da caça? O infortunado animal recebia os sarcasmos, resignadamente. Outro soberbo cavalo, de procedência húngara, entrou no assunto e comentou:

- Há dez anos, quando me ausentei de pastagem vizinha, vi este miserável sofrendo rudemente nas mãos do bruto amansador. É tão covarde que não chegava a reagir, nem mesmo com um coice. Não nasceu senão para carga e pancadas. É vergonhoso suportar-lhe a companhia. Nisto, admirável jumento espanhol acercou-se do grupo, e acentuou sem piedade: – Lastimo reconhecer neste burro um parente próximo. É animal desonrado, fraco, inútil, não sabe viver senão sob pesadas disciplinas. Ignora o aprumo da dignidade pessoal e desconhece o amor-próprio. Aceito os deveres que me competem até o justo limite, mas, se me constrangem a ultrapassar as obrigações, recuso-me à obediência, pinoteio e sou capaz de matar.

As observações insultuosas não haviam terminado, quando o rei penetrou o recinto, em companhia do chefe das cavalariças. – Preciso de um animal para serviço de grande responsabilidade, informou o monarca, um animal dócil e educado, que mereça absoluta confiança. O empregado perguntou: – Não prefere o árabe, Majestade? – Não, não – falou o soberano, é muito altivo e só serve para corridas em festejos oficiais sem maior importância. – Não quer o potro inglês? – De modo algum. É muito irrequieto e não vai além das extravagâncias da caça. – Não deseja o húngaro? – Não, não. É bravio, sem qualquer educação. É apenas um pastor de rebanho. – O jumento espanhol serviria? – insistiu o servidor atencioso. – De maneira nenhuma. É manhoso e não merece confiança. Decorridos alguns instantes de silêncio, o soberano indagou: – Onde está meu burro de carga? O chefe das cocheiras indicou-o, entre os demais. O próprio rei puxou-o carinhosamente para fora, mandou ajaezá-lo com as armas resplandecentes de sua Casa e confiou-lhe o filho ainda criança, para longa viajem. E ficou tranqüilo, sabendo que poderia colocar toda a sua confiança naquele animal…

Assim também acontece na vida. Em todas as ocasiões, temos sempre grande número de amigos, de conhecidos e companheiros, mas somente nos prestam serviços de utilidade real aqueles que já aprenderam a servir, sem pensar em si mesmos….e nós será que já aprendemos servir? Pense nisto….

Fonte: Vencer ou Vencer

Quem Seria a Escolhida?




                                   


Conta-se que por volta do ano 250 A.C, na China antiga, um príncipe da região norte do país estava às vésperas de ser coroado imperador mas, de acordo com a lei, deveria se casar. Sabendo disso, ele resolveu fazer uma "disputa" entre as moças da corte ou quem quer que se achasse digna de sua proposta.
No dia seguinte, o príncipe anunciou que receberia, numa celebração especial, todas as pretendentes e lançaria um desafio. Uma velha senhora, serva do palácio há muitos anos, ouvindo os comentários sobre os preparativos, sentiu uma leve tristeza, pois sabia que sua jovem filha nutria um sentimento de profundo amor pelo príncipe.
Ao chegar em casa e relatar o fato à jovem, espantou-se ao saber que ela pretendia ir à celebração, e indagou incrédula:
- Minha filha, o que você fará lá? Estarão presentes todas as mais belas e ricas moças da corte. Tire esta idéia insensata da cabeça; eu sei que você deve estar sofrendo, mas não torne o sofrimento uma loucura.
E a filha respondeu:
- Não, querida mãe, não estou sofrendo e muito menos louca, eu sei que jamais poderei ser a escolhida, mas é minha oportunidade de ficar pelo menos alguns momentos perto do príncipe, isto já me torna feliz.
À noite, a jovem chegou ao palácio. Lá estavam, de fato, todas as mais belas moças, com as mais belas roupas, com as mais belas jóias e com as mais determinadas intenções. Então, inicialmente, o príncipe anunciou o desafio:
- Darei a cada uma de vocês, uma semente. Aquela que, dentro de seis meses, me trouxer a mais bela flor, será escolhida minha esposa e futura imperatriz da China.
A proposta do príncipe não fugiu às profundas tradições daquele povo, que valorizava muito a especialidade de "cultivar" algo, sejam costumes, amizades, relacionamentos, etc...
O tempo passou e a doce jovem, como não tinha muita habilidade nas artes da jardinagem, cuidava com muita paciência e ternura a sua semente, pois sabia que se a beleza da flor surgisse na mesma extensão de seu amor, ela não precisava se preocupar com o resultado.
Passaram-se três meses e nada surgiu. A jovem tudo tentara, usara de todos os métodos que conhecia, mas nada havia nascido. Dia após dia ela percebia cada vez mais longe o seu sonho, mas cada vez mais profundo o seu amor. Por fim, os seis meses haviam passado e nada havia brotado. Consciente do seu esforço e dedicação, a moça comunicou à mãe que, independentemente das circunstâncias, retornaria ao palácio, na data e hora combinadas, pois não pretendia nada além de mais alguns momentos na companhia do príncipe.
Na hora marcada estava lá, com seu vaso vazio, bem como todas as outras pretendentes, cada uma com uma flor mais bela do que a outra, das mais variadas formas e cores. Ela estava admirada, nunca havia presenciado tão bela cena.
Finalmente chega o momento esperado e o príncipe observa cada uma das pretendentes com muito cuidado e atenção. Após passar por todas, uma a uma, ele anuncia o resultado e indica a bela jovem como sua futura esposa. As pessoas presentes tiveram as mais inesperadas reações. Ninguém compreendeu porque ele havia escolhido justamente aquela que nada havia cultivado. Então, calmamente o príncipe esclareceu:

- Esta foi a única que cultivou a flor que a tornou digna de se tornar uma imperatriz. A flor da honestidade, pois todas as sementes que entreguei eram estéreis.


Fonte: Possibilidades.com

domingo, 13 de janeiro de 2013

Execução - Parte III








   O Diácono calou as testemunhas ao levantar apenas uma mão, invadindo a pequena plataforma de madeira com a sua presença imponente.
- Meus filhos, finalmente trago à vossa presença a feiticeira que provocou a seca na nossa pátria e assassinou duas crianças. Há muito que temos tido queixas em relação a ela e agora ei-la, à vossa mercê. Se quiserdes, não mais ela chacinará as vossas crianças nem seduzirá ou corromperá os vossos maridos. Que faremos?
- Queimem a bruxa!
- Cortem-na aos pedaços!
- Enforquem-na!
Olhando-os com ar pesaroso, o Diácono silenciou-os novamente.
- Meus filhos, não será necessário proceder à violência extrema. Afinal de contas o nosso Pai é misericordioso. Entre vós há crianças, não vos esqueceis.
Um silêncio contemplativo e pesado cobriu a atmosfera, até ser interrompido com gritos hesitantes e agrupados, até se transformar nos gritos de uma turba enfurecida.
- Queimem a feiticeira!
- É isso mesmo! Derretei o seu rosto provocador!
- Transformai – a em cinzas!
Ostentando uma expressão ligeiramente abatida, o Diácono ergueu o rosto para os presentes e anunciou:
- Muito bem. A acusada será executada imediatamente.
- E defesa, não tenho nenhuma? - Indagou Sybilla, atrevidamente.
- Se quereis dizer algo é permitido, mas o povo e o Pai Sol são os juízes - respondeu o Diácono.
Após atarem-na ao poste, deixando os braços livres, a feiticeira voltou-se corajosamente para o público e disse em voz alta e clara:
- Minha pobre gente insana. Achais que sou a culpada de tudo apenas porque precisam de um bode expiatório. Quantos de vocês não ajudei? Se alguns morreram foi porque não fui forte o suficiente para ser bem sucedida. Pobres ignorantes. As pessoas que vos podem salvar vão sendo executadas e acabareis condenados pela vossa intolerância. Ouvi com atenção, pois mais não falarei: após a minha morte virá alguém, alguém cujo poder e intensidade não poderá ser explicado por palavras. Aquele que virá fará grandes coisas e a magia residirá nas suas obras, mas esse também abominareis e condenareis à morte. O vosso Diácono lá estará quando tal acontecer. Malditos sejais todos vós!
 A multidão não teve tempo para reagir às suas palavras, pois imediatamente foi ateada a fogueira e o fogo alastrou-se a uma velocidade considerável. Contudo, Sybilla não se mostrou alarmada e deu uma das suas gargalhadas arrepiantes. Em vez de gritar de medo, fechou os olhos e levantou bem a cabeça, chamando a si todas as suas forças. Eles não sabiam com quem se estavam a meter e doravante brincavam com o fogo. Subitamente o céu encheu-se de nuvens escuras e as crianças começaram a chorar. O ar estático ganhou vida e a audiência foi surpreendida por uma leve brisa, transformando-se de seguida numa rajada de vento. As suas vestes enfunavam com o vento e os cabelos esvoaçavam enquanto a fogueira parecia apagar-se. Mas não foi o que aconteceu. O fogo espalhou-se em redor, algumas faúlhas alojando-se nos telhados das casas e nas plantas ressequidas. Rapidamente o fogo alastrou e a multidão dispersou-se aos gritos, acorrendo ao rio para apagar o fogo crescente. Sybilla foi solta da fogueira quase apagada e voltaram a atirá-la para a jaula.
- Onde me levam, seus desgraçados?! - Interrogou ela, exasperada.
- Temos de fazer algo antes que destruas a nossa terra – retorquiu o Diácono, subindo para a frente da carroça, conduzindo-a ele próprio com o sub-diácono a seu lado com ar aterrado.
Os soldados seguiram-no a cavalo e numa corrida desenfreada, alcançaram o lago no bosque. Antevendo o que se passaria a seguir, Sybilla resistiu quando a retiravam e tiveram de a espancar até a conseguirem controlar. Mesmo assim arranhou uns quantos rostos e arrancou uns quantos tufos de cabelo.
Rapidamente a puseram de joelhos enquanto o diácono recitava a oração aos condenados e Sybilla conseguiu libertar-se, arrastando-se e agarrando-se ao peitilho da camisa imaculada do religioso. Ela abordava-o e adulava-o com uma intimidade nada adequada.
- Augustus, por favor, não me desgraces ainda mais. Pelos momentos que passámos juntos, não me afogues. Deixa-me fugir.
O diácono mostrou-se atordoado e incomodado por ter sido chamado pelo seu verdadeiro nome, mas não cedeu.
- Não lhe dêem atenção. Ela sabe o meu nome por bruxaria – explicou o religioso perante os olhares atónitos - Atem-na e atirem-na à água - ordenou ele sem entusiasmo nem autoridade na voz. Dissimuladamente cobriu os olhos, voltando-se de costas após o terem ajudado a subir ao barco, conduzindo-o até à parte mais funda do lago.
 Incapazes de suportar mais os gritos da feiticeira, amordaçaram-na e atiraram-na ao lago. Durante vários minutos Sybilla agitou-se desesperadamente, mas encontrava-se demasiado enfraquecida e dormente. A última coisa que viram foi um fiapo negro do seu vestido amarrotado.
 Em silêncio voltaram à cidade e constataram com desespero que o fogo continuava persistente. O Diácono e o seu subalterno rezaram fervorosamente de joelhos no chão empoeirado enquanto anoitecia. Sob o céu negro, a visão contrastante do fogo era aterradora.
No interior de uma casa a ruir encontrava-se uma menina aos gritos e seus pais gritavam de desespero no exterior, gritando por ajuda.
 Subitamente o vento voltou a avivar-se e sentiram em vez de ver uma presença densa e intoleravelmente forte e omnipresente. Quando tudo parecia perdido, sentiram leves picadas frescas e, com uma força impressionante, bátegas de chuva grossa começaram a cobrir a terra como um manto de água. A população prostrou-se de joelhos, chorando e gritando, mal crendo na sua sorte. Alguns mais atentos avistaram uma mulher de branco com a cabeça coberta por um capuz no cimo da igreja com os braços majestosamente erguidos em direcção ao céu. A menina na casa em chamas foi resgatada do fogo milagrosamente e totalmente extinto e muitos recolhiam a chuva com o chapéu ou molhavam o rosto sujo. Quando a mulher misteriosa baixou o capuz, a sua cabeleira vermelha resplandeceu como uma chama viva e não se molhou.
- Olhem, é a feiticeira! - Gritavam as testemunhas, apontando atónitas. Contudo, os outros nada viram, pois o espírito havia desaparecido.
 Sentada no telhado mais longínquo da igreja, o espírito que outrora fora Sybilla contemplava a sua obra, satisfeita. Pobre gente insignificante. Ao pensarem que a condenariam à danação eterna, libertaram-na do fardo da sua existência, concedendo-lhe uma oportunidade para fazer algo de grandioso antes de reencarnar em outro corpo. Mas não ainda; ainda era cedo. Deixá-los rejubilar com a chuva que evocara, preenchendo-lhes as suas insignificantes vidas. Afinal de contas eram leigos da magia, cegos ao poder que trepidava à sua volta desde o início dos tempos.
Antes que o destino decidisse o seu rumo a tomar, Sybilla investigou sobre o que levou à sua execução, acabando por descobrir o culpado.
 Três dias após o acontecimento, o conde Berestorf comemorou o seu 35º aniversário, tendo recebido centenas de cartas de felicitações. A última a ser aberta continha um odor que lhe era familiar e dizia:
«Meu caro Berestorf. Queríeis a minha atenção e venho por este meio concedê-la. Sabíeis que bastava uma noite para vos conhecer e achei-vos medíocre, tão viril quanto um velho padre. Quisestes vingar-vos de mim e instigar o povo à revolta (sei muito bem que as criaturas não tinham alento suficiente para exigir a minha morte) e agora eis-me banida da vossa pacata e imprestável forma de vida. Em breve vos cumprimentarei antes de partir.»
Após um intenso enrubescer, o rosto do conde empalideceu visivelmente. Desesperado, rasgou a carta e pediu protecção do Diácono, mas mesmo estando este último alojado próximo de seus sumptuosos aposentos, nada pôde fazer contra a ira de um espírito.
Uma semana depois o conde foi encontrado na cama com alguns dentes partidos, a carne perfurada por pregos, os membros deslocados e o corpo completamente nu e ensopado, atado e amordaçado.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Execução - Parte II


  



  Pouco antes do anoitecer, Sybilla sentiu a estranha vibração da terra que reflectia as energias malignas e negativas de quem a pisava. Os carrascos vinham aí e ela estava preparada.
  Contudo, em vez de se deixar ficar à espera que a apanhassem, esperou que os atacantes surgissem detrás dos ramos dos salgueiros e deu um grito forçado. Alguns homens armados olharam em volta confusos, acabando por avistar um vulto de negro correr velozmente por entre as árvores. Fingindo-se assustada, a feiticeira olhava para trás diversas vezes, deixando indícios de sua presença de propósito. Ziguezagueando pelo bosque, conseguiu despistar os seus perseguidores durante vários minutos, apesar de os cães de caça ajudarem sobremaneira na busca. Quando se aproximaram perigosamente, Sybilla abrandou a corrida desenfreada e deixou que o soldado mais veloz a agarrasse por trás, prendendo - lhe os braços atrás das costas. Em vez de se tentar libertar, a mulher riu com escárnio, suas gargalhadas loucas ecoando pela imensidão do bosque. Os homens mostraram-se incomodados e confusos, depreendendo pelo seu estranho comportamento que a mulher era completamente louca. Mais três soldados rodearam-na e içaram-na bruscamente sobre uma carroça, a qual transportava uma jaula de metal enferrujado. Após trancarem a jaula, limparam o suor do rosto devido ao calor anormal que se fazia sentir.
- Ainda tendes vontade de rir? - Perguntou-lhe um deles com desdém.
Sybilla respondeu-lhe com uma rosnadela:
- Vós sois mesmo patéticos. Acham que vos receio? Não passais de peões num jogo maior.
- Calai-vos, bruxa maldita – ordenou-lhe o que parecia mais velho e o que menos escondia o facto de estar a admirar as suas pernas semi - expostas.
- Ah, gostais do que vedes? - Pois contentai-vos apenas em olhar.
O homem evitou o seu olhar e limitou-se a cuspir para o chão.
- Vamos, acabou-se o descanso - anunciou ele pouco tempo depois.
 Os homens rodearam a jaula e caminharam em silêncio. Estranhamente, o cavalo que transportava a carroça mostrava-se nervoso e não parava de resfolegar, enquanto a feiticeira murmurava palavras numa língua estranha. Por vezes um dos soldados necessitavam de se aproximar da carroça e abri-la para confirmar que a mulher ainda se encontrava na sua prisão. Isto porque por momentos parecia que ela desaparecia e reaparecia  após alguns minutos. Cada vez que um captor procurava na jaula, afastava-se com um profundo golpe na face, fazendo - o uivar de dor. Enquanto a estranha escolta avançava, o ar parecia tornar-se mais pesado e obscuro, como se aquele lugar estivesse assombrado. Mesmo sem confessar o seu medo, os soldados aproximaram-se mais uns dos outros, temendo ser atacados por algum espírito maligno.
- Cobardes - dizia Sybilla com desdém.
O sol encontrava-se sobre o horizonte quando alcançaram uma gruta ampla e cheirando levemente ao sangue abundante e ferroso. Do seu interior saiu um homem alto e robusto de cabelo prematuramente grisalho, acompanhado por um jovem mais baixo e franzino, mas belo e no auge da sua juventude, de cabelos tão dourados como os de um querubim. Ambos envergavam vestes brancas e um colar pesado com uma medalha de ouro contendo um sol de vários raios no seu interior em baixo – relevo. Apenas o homem alto envergava uma estola vermelha – escura sobre os ombros.
Sybilla dardejou-lhes um olhar cheio de ódio e proferiu obscenidades em voz baixa, mas audível.
- Aproximem a acusada - ordenou o homem corpulento com firmeza.
Dois soldados retiraram-na da jaula e seguiram os sacerdotes, praticamente arrastando a feiticeira.
- Sabeis porque estais aqui? - Perguntou-lhe o homem da estola sem a fitar.
- Porque não me dizes tu, monstro? - Retorquiu-lhe ela, arreganhando-lhe os dentes num sorriso feroz.
Sem ter visto de onde, uma mão pesada esbofeteou-lhe o rosto, rasgando-lhe o lábio.
- Tratai o Diácono com respeito! - Ordenou-lhe uma voz.
O soldado que se encontrava atrás empurrou-a para a frente, fazendo-a cair de joelhos e não a deixando levantar. Quando ela ia proferir algo mais, o Diácono levantou uma mão, impedindo os soldados de agredirem a ré.
- Estais cativa e sois acusada de heresia e do homicídio de duas crianças por estrangulamento.
- Acreditais mesmo nisso, padre? Não achais que sou carinhosa? - Perguntou-lhe Sybilla com um sorriso provocante, fazendo o Diácono corar levemente.
- Como vos atreveis?!... - Rosnou o Diácono, mas logo recuperou a compostura.
- Mantendes pactos com o demónio e isso é imperdoável aos olhos do Pai - Sol, aquele que só contém pureza.
Sybilla bufou e cuspiu para pés do Diácono com desdém, rindo histericamente quando outra bofetada violenta a atingiu.
O jovem que ladeava o Diácono estremeceu e desviou o rosto ao ver um dente cair da boca da feiticeira.
- Vedes o que fazem os sacerdotes? Ainda quereis pertencer à Santa Ordem? - Dirigiu-se Sybilla ao rapaz que empalidecia visivelmente. Ele limitou-se a baixar o rosto.
- Calai-vos! - Bradou-lhe o Diácono - Não vos dei permissão para falar!.
- Malditos. Sois todos uns desgraçados - retorqui Sybilla com desdém.
O diácono fez sinal para a levarem para uma cadeira pesada de madeira e ataram-lhe os pulsos com cordas grossas e ásperas, irritando a pele pálida e sensível de Sybill. Porém ela nunca deu sinal de desconforto.
- Jovem, não nos provoqueis e arrependei-vos de vossos pecados. Só assim sereis poupada -aconselhou o Diácono.
- Como posso arrepender-me de algo que não fiz?! - Retorquiu ela indignada.
Dizei a verdade! - Ordenou o sacerdote.
- Não há verdade na vossa maldita Ordem.
Outra bofetada aterrou no seu rosto.
- Confessai vossos pecados!
- Pobres desgraçados.
Um murro no rosto partiu-lhe a cana do nariz e turvou-lhe a visão por um bom bocado enquanto engolia sangue.
- Confessai, maldita!
Sybilla  abriu o olho inchado tanto quanto podia e fitou o Diácono com expressão séria, surpreendendo-os com uma gargalhada estridente e assustadora.
- Pela última vez, confessai!
Nova gargalhada.
 Desta vez Sybilla teve de ser arrastada até  uma nova cadeira, esta coberta de pregos. A feiticeira só o notou após se ter encostado e terem atado uma corda em volta do seu pescoço. Um gemido de dor escapou-lhe da garganta ao sentir inúmeros pregos penetrarem-lhe a carne.
Ninguém falou desta vez e apenas se limitavam a olhá-la enquanto esperavam que a resistência da prisioneira findasse. O suor escorria-lhe pela face e o corpo era percorrido por arrepios, mas ela fechou os olhos e concentrou-se, ignorando a dor.
 Quando se cansaram de esperar, libertaram-na e ataram-lhe os pulsos a duas argolas, expondo-lhe as costas. Chicotearam-na com um chicote triplo repleto de espigões, rasgando-lhe a pele e a carne. Desta vez a feiticeira gritou livremente, mas amaldiçoou-os com fervor, fazendo com que todos rezassem em uníssono.
 Quando as suas costas se tornaram uma massa ensanguentada, deitaram-na numa mesa grande e ataram-na pelos pulsos e tornozelos, esticando os membros abertos com um torno. As junções dos ossos começaram a separar-se, mas Sybilla manteve-se silenciosa, drogada pelos efeitos do fumo que inalara na fogueira, a qual começava a fazer efeito. A dor continuava a ser agonizante, mas o corpo não soçobrava. Quando um estalo se ouviu nas suas pernas, soltaram-na e sustentaram-na pelos braços, pois ela era incapaz de andar devido às pernas partidas.
- Que Deus tenha pena de vós – disse finalmente o Diácono e, num silêncio acutilante, atiraram-na para a carroça.
Quando Sybilla voltou a recobrar um pouco da sua consciência, encontrava-se no centro da aldeia, em frente ao pelourinho e uma multidão crescente juntou-se à sua volta, a uma distância cautelosa. A população tinha um ar cansado e faminto, a pele ressequida pelo sol devido à seca que assolara o território há meses. Não era o ódio que os movia, apenas o desespero e a tristeza. Apenas alguns gritavam, apontando a pilha de madeira junto ao, pelourinho:
- Queimem a bruxa!