Donzela Solitária

 

Num dia de vento suave e cintilante Primavera,

A donzela passeia por seus jardins luxuosos,

Por seu príncipe encantado espera,

Escrevendo poemas saudosos.

Mas ele nunca chegará,

Apenas o fantasma de um amor

Que nunca a abraçará.

Ela segura sonhadora uma bela flor,

Contudo seu odor não a alegrará,

Tanta riqueza e formosura só lhe causava dor,

Uma vida de felicidade fingida um dia acabará.

Fechada a sete chaves grande parte do dia,

Apenas verá pela janela um pedaço de jardim,

Sem poder escutar o canto da cotovia,

Desejando que tudo tivesse um fim.

Fora de sua prisão de cristal,

Tudo seria mais quebradiço e frágil,

Uma simples queda seria deveras mortal,

Contudo preferível a um mundo ágil,

Repleto de bailes sem sentido,

Danças de pura hipocrisia,

Alguém elogiando seu nobre vestido,

Mas ninguém para dali a levar.

Ela queria ser uma ave

Para muito longe voar,

Planando em nuvens de branco suave,

Esquecida de cruel humanidade

Que ao cárcere a condenou.

Num dia de maior liberdade

A donzela de um muro se atirou.

Cavaleiro Negro

Por montes e vales ele galopa velozmente,

Uma mancha negra num verde intenso e silvestre,

Desafiando os deuses e os antepassados ele vagueia,

Desdenhando a estabilidade de um mundo seguro,

Incansavelmente ataca, mata e guerreia,

Um brilho no olhar sob o elmo de ódio puro.

Seu coração é negro como o escuro ébano,

Tão sombrio e temível como sua armadura,

Poucos são os que viveram para contar a história,

De um homem que nunca se contentou com pouco,

Eternamente castigado por sua apurada memória,

A cada dia tornando-o cada vez mais louco.

Não há nada mais perigoso que um homem,

Que não tem mais nada a perder ou temer,

O passado será tenebroso e assombrado,

Mas o presente será isento de medo e piedade,

Não haverá ninguém mais temido e odiado,

Que um perigoso assassino cavalgando em liberdade.

Sua capa negra são asas de morcego esvoaçantes,

Seu cavalo uma besta forte e veloz,

Sua espada contém reflexo de mil invernos,

Fria, cortante e de sangue sedenta,

À noite é uma visão medonha dos infernos,

Contudo não de beleza e encanto isenta.

Seus olhos são negros como ferro em brasa,

Seus braços fortes como rochas centenárias,

Esguio e gracioso como um belo salgueiro,

Ainda simplesmente uma criança para o mundo ancião,

Contudo um velho em seu espírito obscuro e matreiro,

Um amante que só sabe matar com paixão.

Só a plena solidão poderia guardar seu segredos,

De um homem que só soube amar demais,

Um olhar que o cativou num fugaz momento,

Deixando-o à mercê do romantismo, um tolo até à eternidade,

Um amor assim levou-o a um eterno tormento,

Sua dama se esfumou, seu coração ficou pela metade.

Sem nunca descobrir quem a matara cruelmente,

O amante destroçado foi condenado à obsessão,

Incapaz de encontrar o verdadeiro culpado,

Inventava um mesmo onde não o havia,

Atacando pela noite dentro como um monstro libertado,

Alguém seria encontrado destroçado quando amanhecia.

Em todos os seus dias de luto e pesar,

O cavaleiro ao crepúsculo no chão se ajoelhava,

Seu rosto pálido e de lágrimas de saudade manchado,

Não se desviava de um local com uma cruz atravessada,

Lembrando o sangrento corpo que por ele foi sepultado,

O corpo de sua chorada donzela, tão amada.

Para sempre um vulto haveria de vaguear,

Por montes e vales em plena escuridão,

Um fantasma deambulando sem rumo nem destino,

Vingando sua amada com sua errante assombração,

Incansável, rompendo a espessa névoa de velino,

Um louco, uma alma penada que outrora tivera coração.

Desencanto

Silêncio,

É tudo o que se encontra

Nesta soturna floresta encantada

Tão bela e há muito enfeitiçada

Pelos druidas que se prostravam em oração.

Solitária,

Sob as árvores ela caminha

Coberta pelas catedrais verdes de sua folhagem

Seu cabelo é afagado pela suave aragem

Que descomprime seu peito choroso.

Ajoelhada,

Encolhendo-se em seu manto de veludo

Ela contempla o lago profundo e misterioso

Espelhando seu rosto belo, amoroso

Sua vastidão vazia começa a alarmá-la.

Preocupada,

Desesperada por ter companhia

A donzela volta a estender sua mão

Sua palma cheia de migalhas de pão

Pela chegada dos cisnes ela espera.

Arrefece,

O ar torna-se outonal

A água agita-se num silencioso aviso

Empalidecendo seu triste sorriso

De pobre jovem enlouquecida.

Desesperada,

Ela sacode seus loiros cabelos

Lava suas mãos na água fria

Ignora a forte rajada de magia

Que a obriga a partir.

Desolada,

A jovem corre e tropeça

Perdendo um sapato pelo caminho

Mas ela não recua, desolada e sem carinho

Suas faces molhadas por lágrimas de cristal.

Assustada pela visão de um fantasma

Ela tropeça e cai de cabeça

Seu crânio esmagado numa pedra afiada

Deixando sua cabeça loira ensanguentada

Um sacrifício em honra dos deuses.

Anoitece lentamente

Ouvem-se choros ao longe

Uma figura descalça surge no lago gelado

Sua beleza eclipsada por seu crãnio destroçado

Amargas lágrimas derretem a vegetação em seu redor.

Morte

A Morte é de todas as coisas a mais temida,

Sua foice sua varinha de condão cintilante,

É um pesadelo de capa negra e puída,

Seu capuz escondendo seu medonho rosto nada cativante.

É um Inverno que se prolonga pela eternidade,

Um vento assombrado, frio e sem voz,

É obscura, sábia e plena de serenidade,

Arrastando-se pelo mundo frágil, impávida e veloz.

Poucos sua soturna beleza poderão reconhecer,

Uma poesia inerente a cada murchar de uma flor,

O morrer de um dia, dando lugar ao anoitecer,

O rugir de um mar na tempestade de seu esplendor.

É o lento cair de uma chuva enlutada,

A triste melodia de um rouxinol solitário,

É o profundo silêncio numa dimensão encantada,

Cobrindo tudo com seu pesado e imenso sudário.

O tempo avança numa corrida vã e desenfreada,

Mas nunca suficientemente rápido para poder escapar

A morte ultrapassa-o com seu poder em sua longa estrada,

Sua canção é repleta de tragédia, dor e pesar.

Deambula entre sepulturas perdidas no tempo adormecido,

Obscurecidas pelo denso pó do repousante esquecimento,

Cuida do reino dos mortos bafiento e esquecido,

Pois ninguém passerá naquele paraíso, nem em pensamento

A Morte é o anjo-da-guarda à cabeceira,

Que realiza aos que sofrem seu mórbido desejo,

Acaba com o sofrimento de uma vida inteira,

Matando silenciosamente, carinhosamente como um beijo.

Guardian Angels

Ethereal realms are unknown

In this world where we try to live

One must seize the moments life can give

And be strong against the stormy weather

But soft and gentile as a flowing feather.

We can stare at the skies above

But won’t see what we’re looking for

The ones we won’t be seeing any more

Still they will always be near and around

They’ll come from above, without making a sound.

Angels are meant to live in sanctity

There are so many places for them to be

Still they will always keep watching over me

And sooth my pain every time I fall

They will come whenever we urge to call.

Who understands what true perfection is

That lies in every early bird that sings

A white dove that gently spread its wings

Smoky clouds that slide across the atmosphere

Every sunset reminding us that God is here.

Heavenly music in our ears

When the rain falls in curtains of silver

In the whispering murmur of the running river

In the melody of the lonely shepherd’s flute

At nightfall before the resting night becomes mute.

I’ve never heard the operatic chants

That the angels must sing when they pray

Or the pure toned harps they might play

But down on earth heaven’s music is in nature

And every single note will echo trough the future.

We must not mourn for good

For the deceased who once were so dear

In our eyes they seemed to forever disappear

But they are alive, close to the heart

Arriving when needed, opening heaven’s gates apart.

If we whine about life, they'll suffer

Because once they lost their earthly existence

Life must be lived with love, not resistance

And our souls must be filled with spirituality

Let our heavenly guardians be remembered for eternity.

Autumn

The falling leaves on the floor

Caught and dropped by the autumn breeze

They dance the complex waltz of fate

Eternally meant to float and then disappear

While The morning ice makes them freeze.

Drops of rain invade the atmosphere

And sooths the earth that slowly dries

The darkening sky has the color of lead

Due to the tension, it so full of tears

Farewell to the worm that slowly dies.

Sad piano, tragic violin

So much passion and sadness to be played

Along with the idyllic view of brownish gardens

The naked trees point their branches to the sky

Their plain skeleton is all that remained.

I walk alone in the cold,

A scarf waving upon my trembling shoulder

Melancholy is a weight in my beating heart

As I sense the fullness of growing loss

In this sterile land that grows colder.

Smell the air, behold the silence

Of this sea of sadness I am aware

I sense the grief that nature evokes

The path is narrow and darkness in thicker

I always feel helpless when you’re not there.

I remember all we’ve been through

All the springs and summers we can’t regain

I felt worm and protection under your light

But light fades and when we say goodbye

Autumn days will always come back again.

Bleeding Rose

 Alas, single rose of sheer beauty,

Always described in every century.

Your pale petals are such a sight

And you glow made of pure white,

You’re a gift from nature to mankind

The finest treasure one will ever find.

Still you bear tears so red

That drop by drop floods your bed;

You know what was made of nature,

There is little to keep and nurture,

Once that was so much to enjoy,

But know there’s just will to destroy.

So bleed, beautiful rose of mine,

Drop these tears as red as wine,

Your roots became so thin and weak,

Such sight enables me to speak,

As there are no words to describe

The evil plans the world will contrive.

Once you were whole and strong

But now there’s no place to belong,

As you garden was forever erased.

So many years you have faced

But now you are meant to decay

And there’s no place for you to stay.

All true colors will forever disappear

And safeness will turn into fear,

Still you will keep standing tall

And represent true Mother Nature’s call,

But who will hear that distant voice

That’s being silenced by another’s choice?

From spring to winter you’re still there,

As Silent a guardian always present somewhere;

But one must not ignore the power

That is held by a single flower.

She endured the entire storm

And kept the sun that once was worm.

Hush little flower, just wait

For the revelation of your fate,

Gust s of wind will try to break you,

The rain will come and make you blue;

Time will make you ill and rotten,

Still you will never be forgotten.

In Darkness

It’s always hard to look inside

Far ahead from what eyes can see

Can you see the darkness in me,

That lies beneath my harmless face?

There is night beneath the daily surface.

The cold moonlight in windy nights

Send shivers through my spine

The poison of pain became a sweet wine

Once I got used to it, I embraced it all

And discovered the wonders of winter and fall.

I’m not only the Lady in Black

That passes by you in the street

Don’t think that I’m only nice and sweet

I also bare bitterness as well,

A  Bittersweetness that not everyone can tell.

Poetry is my way to see the world,

It’s not only a shiny and cozy place.

It can be marked by a bloody trace.

Let me deal with it as I please,

Always  standing in the dark at ease.

I dream dreams that are only mine

And live in a world of my own

It has so many sights that you’ll never know

And my essence dwells in every corner,

In that realm I’m the queen and the owner.

I like to feel the cold breeze

That sends me messages from afar,

In this life that’s always a war

To know where we are and where we’ll stay,

I’ll keep on discovering my several shades of gray.

In the bottom of the grays there is black

Where my fears meet my deepest desires

There are ashes from a thousand fires

And icicles from the everlasting winters,

Where I dried so many frozen tears.

I keep away from the sun,

It just gives one a false security

In the dim light there is more purity

And a safeguard to all the souls like me

That can see the world as I can see.

I melt with deep thoughts and words

And loath the shallowness that infects the mind

The world’s lost because too many eyes are blind.

We must observe the truth and the rawness

 That’s unseen by the futile and the thoughtless.

Losing the Poet

How can I cry for someone

That ignored my own existence

How often do I have to write

Until my words match yours someday?

The wind carries the music of our toughts

A melody that I will always remember

Cold days will be our shelter

A memory born in December

I will always shed a tear for you

Lilies upon your grave.

Your poems were so bittersweet

A pen scratching words and spitting blood

No one understood your pain

But in my soul it would always remain.

You were my mentor and my teacher

My greatest source of inspiration

I was too far to hear your screams

Still you lied in the velvet of my dreams.

Hearing your name, thinking of you

Made my heart always beat fast

Both shared the passion for the Past

A dust that would never settle down.

You gave life to my wishes

Despite the boundaries of our worlds

A sublime match, a perfect start

Even when Death tore us apart.

The last goodbye I never said

Became a scar for a lifetime

I feel so sorry for your doom

My poor rosebud that ceased to bloom.

At last we have crossed our paths

My tears a tribute to your poems,

Lilies upon you grave.

Fragile

Suffocating in pain

Nothing is in vain

Pale and weak

Unable to speak

I fall into the void.

So cold and ashamed

Feelings that cannot be named

I cover my face with trembling fingers

As the void of sorrow still lingers

I'm unable to turn away.

Falling tears burn my face

Even in sadness there is grace

The essence of a snowflake

Drowning roses in the lake

Under the Winter sky.

Only the window to the outside

Keeps me from going with tide

The rain floods the world of glass

Lost fate without a compass

Won't sail away through unsteady waters.

Caution, do not tuch too much

Or I'll break with a single touch

Life is a painting drawn in confusion

The brightest colours arew just an illusion

Dreams are for the weak.

A feather is strong enough to wound me

A lost soul I shall be

Wandering about realms of insanity

Fearing for my frailty

Afraid to fall into peaces.

As blood runs I feel sore

The cracks will recover no more

Words of hate cannot be spoken

I'm made of glass and the glass is broken

Covered by dust as time goes by.

The rain may fall

As silent tears falling from Heaven

Though the sky doesn't hold deeper wounds

Than the ones that I bury inside.

Frases do Dia 3

"Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte."
                                                                                        Sigmund Freud 

  Ontem fui a um funeral. Ir a funerais e de seguida ao cemitério, faz-me pensar mais sobre a morte. É das coisas que mais tememos nesta vida, não apenas a nossa morte mas também a morte daqueles que amamos. Mesmo estando bem de saúde e sem problemas de maior, queixamo-nos imensas vezes e nem sempre damos o devido valor ao facto de estarmos bem e vivos, com tantos caminhos por explorar, tantos momentos para desfrutar. Apesar disso, sabemos lá bem no fundo que vale a pena viver, mas a vida seria vivida com maior paixão e intensidade se soubéssemos aceitar a morte ao invés de temê-la. Sofremos em vida e tememos tantas situações; no entanto também tememos a morte e raramente ousamos reflectir sobre ela ou tentar aceitá-la. Pensar sobre tal assunto não é de modo nenhum uma atitude mórbida ou desnecessária. Muito pelo contrário: se aceitássemos com estoicismo que morrer é um acto natural e que um dia morreremos, a ansiedade e o medo acabaria por diminuir. 

 Este tipo de pensamento vai-se interiorizando à medida que envelhecemos e vamos ganhando maturidade. Quando soubermos tomar as rédeas da vida com pulso forte e aceitar a morte que encontra-se no horizonte, viveremos mais intensamente e tomaremos controle sobre os nossos medos e os nossos receios. 

 Contudo, é tão difícil compreender e entender que quem falece, mesmo que demasiado cedo, deixa de sofrer e fica em paz, em vez de sofrer durante um tempo indeterminado, sob a tortura de uma vida dolorosa e inerte. Para aqueles que já não conseguem viver uma vida normal, ligados ás máquinas de um hospital, sofrendo de tores intoleráveis e sem possibilidade de cura, a morte é sem dúvida um alívio, um golpe de misericórdia. 

 Morrer é tido como o fim de tudo, não havendo mais nada para além dela, deixando de se existir. Talvez um dia venham a surgir provas palpáveis de que morrer é apenas o início de uma nova etapa, que haverão novas vidas, sendo a morte apenas o início do renascimento  É reconfortante pensar que o nosso espírito continuará a sua jornada no interior de um corpo novo e que esse corpo será apenas um receptáculo de curta validade. Talvez a vida seja uma sucessão de novos renascimentos, interminável como um círculo. E cada nova vida será uma nova oportunidade para se evoluir e acompanhar a evolução do universo.

 Em suma, se formos corajosos o suficiente para viver a vida de forma plena e não tentarmos evitar sequer pensar no conceito de morte, saberemos aceitar as leis da vida e desfrutar do crescimento espiritual com essa filosofia de vida, possuindo uma visão vasta e ganhando uma sabedoria que com o passar do tempo apenas aumentará. É por isso que os anciãos costumam ser tão admirados e respeitados: viveram a sua vida de forma plena e aguardam a morte sem medo no olhar, apenas serenidade.