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sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A Viúva






Sob um céu negro como breu,
Ela arranha a terra com suas mãos feridas,
Chorando aquele ente amado que faleceu;
Estilhaços de uma cortante memória perdida.

O mar revolto ruge como um grito de dor,
Mais alto que o choro dela, debalde gritar
Quem ouvirá os queixumes curará o ardor
Que tortura seu coração até o despedaçar?!

Já o sangue nas veias não corre,
Apenas sal das lágrimas derramadas.
Lenta, penosamente a sua vontade morre
Sob negras pregas do vestido, esfarrapadas.

Seu vestido de viúva esvoaça,
Qual vela de navio á deriva
Sua visão torna-se indistinta e baça
Á medida que sua desgraça a devora viva.

De que servirá esperar por um novo dia
Se o fim já espera à sua porta?
Adeus mundo cruel que tudo desvia;
Ao mar se atira para ser encontrada morta.


Luna Plena



Já a noite vai alta, O céu um lençol de estrelas cintilante, Seu brilho é pálido e sem encanto...



Já a noite vai alta,
O céu um lençol de estrelas cintilante,
Seu brilho é pálido e sem encanto
Quando surge a Lua Cheia, triunfante,
Eclipsando a escuridão com seu luminoso manto.

Lua, Lua Cheia
Reflectida no espelho de minha alma,
Tua magia é um milagre num mundo sem vida.
Ilumina as trevas desta noite calma
Traça teu trilho para cada alma perdida.

Lua, Lua Cheia,
Ergo meus braços para ti em adoração,
Descalça ignoro a tortura deste chão duro
Choro lágrimas de cristal com devoção,
Purifico-me no banho de teu brilho puro.

Lua, Lua Cheia,
Dá-me poder para triunfar,
Dá-me coragem para não temer a escuridão,
Deixa-me correr sob tua luz até me cansar,
Faz-me sorrir à Morte quando ela chegar!



Inverno




Sereno chega o Inverno Com promessas de um sono eterno; Seu gélido peso desce sobre a terra, Alvo manto de neve sobre a serra.


Sereno chega o Inverno
Com promessas de um sono eterno;
Seu gélido peso desce sobre a terra,
Alvo manto de neve sobre a serra.

O vento cortante uiva como se chorasse,
O silêncio impera como se o tempo parasse,
A Natureza cai num sono profundo
E durante meses governa todo o mundo.

Impera um ambiente frio e estéril
Num equilíbrio tão neutro e débil,
A neve cai de um céu escuro, invernal
E as árvores choram lágrimas de cristal.

Impera uma longa e inaudível sinfonia
Que muda de ritmo da noite para o dia,
Em tela tão branca reside uma estranha pureza
Nessas paisagens que transbordam de gélida beleza.

O frio com suas garras domina, forte e terrível
E o calor do sol chacina, imponente, temível,
Sente-se a crua magia no ar ao amanhecer
E a ameaça da tempestade ao anoitecer.

Tudo parece de fino vidro feito,
Tão frágil e contudo tão perfeito,
Um quadro magnífico e hipnotizante,
Monótono, porém de um carisma intrigante.


Durante três meses o Inverno é Imperador.
Pintando suas paisagens com tão fria cor.
O que durante meses surgiu e floresceu,
Soçobrou, definhou e por fim morreu.

Inverno é tempo de repouso e de morte,
Contudo uma bênção de grande porte,
Após o gelo derreter começará uma nova era,
E das cinzas surgirá uma renascida Primavera.















quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Músicas que Inspiram - Nightwish

 Uma das bandas com músicas mais inspiradoras que conheço são sem dúvida os Nightwish. Provenientes da Finlândia, esta banda que veio do frio surgiu em 1996 e o primeiro álbum, Angels Fall First, foi lançado em 1997. Apesar de todos os membros da banda serem talentosos, é sem dúvida o teclista da banda que mais se destaca: Tuomas Holopainen. É ele que compõe praticamente todas as músicas e letras. O seu talento para compor músicas com um ambiente envolvente e escrever letras de uma qualidade extraordinária e poética é impressionante. Há quem o considere até o Mozart do século XXI. Não é de surpreender. Aqui estão os vídeos das músicas que mais aprecio dos Nightwish:




 O single Sleeping Sun pertence ao álbum Oceanborn e foi inspirado num eclipse que ocoreu na Alemanha em 11 de Agosto de 1999. A letra é belíssima, com a estrutura de um poema, descrevendo o amor pela noite e pelo desaparecer da luz do sol, sendo a escuridão e o luar uma inspiração, nascendo no coração de um poeta melancólico.



 O single Nemo (que vem do latim Ninguém) pertence ao álbum Once e fala sobre uma criatura solitária e misteriosa que anseia pelo seu lado mais humano. O cenário é bonito e as cenas  um pouco macabras e surreais. Sem dúvida que o vídeo é muito original





 Wish I Had an Angel pertence também ao álbum Once e fez parte da banda sonora do filme Alone in The Dark. Fala sobre a decadência e a luxúria, além da perda da inocência. A letra é um tanto enigmática e a música intensa e poderosa.



 O single The Poet and The Pendulum pertence ao álbum Dark Passion Play e é o projecto mais ambicioso e ousado da banda. Além de possuir uma duração longa, é extremamente intenso e dramático. Foi inspirado no conto de Allan Poe, The Pit and The Pendulum e fala sobre um poeta prisioneiro numa cela, na qual lamenta os seus erros e deseja ardentemente regressar aos seus momentos felizes de infância e poder refugiar-se num mundo só seu, livre e feliz. Uma lâmina gigantesca que o atormenta na sua cela não cessa de oscilar, cortando o seu corpo no final. Enquanto ele agoniza, vê os seus pais, os quais consolam-no na sua dor e tortura, declarando o seu amor por ele. O ambiente da música é extremamente realista, sendo audíveis o som da lâmina e a tensão na música de fundo.




 E finalmente, outro dos magníficos trabalhos da banda é o single The Islander, do álbum Dark Passion Play, a qual fala sobre um velho marinheiro solitário e a sua vida nostálgica e melancólica.É patente o estilo ligeiramente Steampunk devido à presença do Zepelim e de cenas um pouco surrealistas.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Músicas que Inspiram - Epica



A banda Epica do género Synphonic Metal já tem alguns anos mas continua a possuir o mesmo carisma e as suas músicas são inesquecíveis. Como por exemplo o single Feint, cujo tema é relacionado com a recusa da mesma e com a fragilidade da vida. Não é apenas a voz belíssima da vocalista Simone Simmons que encanta. É também a profundidade e a poesia solene e dramática das letras.






Outro dos trabalhos que aprecio da banda é o single Solitary Ground. Fala sobre a nostalgia e o desejo de regressar ao passado onde havia mais paz e segurança, o desejo de evasão quando a tristeza e a solidão impera.





 The Phantom Agony, um single que teve bastante sucesso na Europa  o qual pertence ao álbum homónimo, possui um vídeo e uma mensagem forte. A banda inspirou-se na tortura das bruxas que ocorreu na sua terra natal, a Holanda. É bem exprimida a incompreensão e a falta da compaixão da Inquisição em relação àqueles que capturavam e os mistérios da vida que apenas os que contactavam com o mundo sobrenatural compreendiam.





Alguns anos mais tarde lançaram o álbum Design You Universe, sendo bastante inovador e criativo (como é habitual nessa banda), no qual desatacou-se o single «Unleashed», contendo uma bonita e intrigante mensagem sobre a loucura e a fragilidade que alguém que enlouquece possui se apercebe. Fala também sobre a incapacidade de distinguir o que é real do que é apenas uma ilusão.




terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Moonlight

Crystal Night, Lonely times...



Crystal night,
Lonely times,
Crying under the moonlight,
A reflection catches the purity
Of the moon glowing quietly.
Here I stand
As silent as dead,
The sky is my land,
Soothing my pain with love,
Sending sacred blessings from above.
Why does everything end?
Becoming nothing but dust?
It's hard to understand
That those flowers will wither,
And their sweet scent will become bitter.
Sad lullaby,
Made by the weeping Nature,
Every night the moon will cry,
As she has to die once again,
Only a pale memory will remain.
My dear Lord,
Don't want to fall asleep,
Just won't say a word,
I'll just cry with the moon,
For she will die soon.



segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

The Swan




Life beneath the mist, In pure mornings he appears...


Life beneath the mist
In pure mornings he appears
A slender neck gracefully bends
Dewdrops fall as translucid spears
Caressing its feathers, softly
As it crosses the water, silently.

A prince in solitude
Walking along with time, serene
The lake is a world of reflection
Leaves fall in the peaceful scene
The lonely swan leaves the shore
And prepares to swim once more.

Nature is magic and music
The wind and the rain are melody
And the swan is silent art
Its graceful beauty is poetry
Conquering the Earth and the Skies
It brings tears to my eyes.

An invisible violin plays
A flute fills the air with sorrow
While the swan peacefully moves
As if there was always a tomorrow
Lonely he is in waters of solitude
Facing the days as an interlude.

Beautiful white swan
Untouched by the hands of mankind
You dance in circles trough the lake
Your silent weep echoes in my mind
Sad sonata in a silent tone
Telling me that you will die alone.

Frases do Dia 4



"As melhores mentes estão caladas com medo de rejeição num mundo onde predomina o comum."

"As melhores mentes estão caladas com medo de rejeição num mundo onde predomina o comum." 
                                                                           Maria Clara Pires Queiroz


 Nos tempos que decorrem, a sociedade em geral encontra-se numa realidade extremamente cómoda e standartizada, na qual quase toda a gente quer ser "normal",  semelhante aos que se encontram à sua volta. Ouve-se a mesma música, utiliza-se o mesmo estilo de vestuário, vêem-se os mesmo programas de TV. Ninguém quer ser considerado anormal, apenas fazer parte de grupos homogéneos e deste modo harmoniosos.
 No entanto, existem aqueles que ousam distanciar-se dessa vulgaridade, indo aos extremos. Surgem os poseurs, os quais que com a sua extravagância inestética e levada aos limites pretendem apenas chocar, não transmitindo nenhuma mensagem especial. Estes poseurs não são necessariamente rejeitados e postos de parte, uma vez que despertam interesse e divertem, quais palhaços da sociedade. Muita gente vulgar admira-os, achando que deste modo não será preconceituosa, uma vez que aprecia as manifestações desses ditos poseurs. Ou seja, são apenas pseudo-diferentes, uma vez que nem sabem realmente o que é ser-se único e diferente.
 No outro extremo, existem aqueles que são diferentes no seu modo de ser e de estar em sociedade, cientes de que fazem comentários depreciativos nas suas costas, rejeitando-os de forma subtil. Contudo, mesmo a subtileza consegue magoar. Muitas destas pessoas consideradas "estranhas" limitam-se a seguir os outros, mantendo-se ligeiramente à parte e evitando dar nas vistas. Devido à sua aparente fragilidade muitas vezes são enxovalhados, ignorados e até maltratados. Não porque são repulsivos ou inferiores. Apenas não se encaixam no perfil dos que os rodeiam e não são compreendidos pela maioria, vítimas da ignorância e até muitas vezes da inveja alheia. Isto porque lá bem no fundo, todos os outros que são "normais" são cobardes e não possuem brilho, aquele brilho que apenas quem é especial o possui.  Muitas dessas pessoas rejeitadas são brilhantes, geniais e repletas de um carisma discreto, que um dia as poderá levar longe, enquanto que o futuro daqueles que rejeitam será muitas vezes fracassado ou muito diferente do que sonhavam. 
 É precisamente no futuro que aqueles que sofreram amargamente pela rejeição e pelos maus tratos se destacarão, deixando de se esconder e passando a mostrar o que valem, a revelar todo o seu valor. Quantos artistas foram desprezados e maltratados pelos demais, sofrendo traumas terríveis e voltaram a erguer-se, regressando mais fortes que nunca e arrebatando o mundo com a sua genialidade e com o seu talento? Acima de tudo, permaneceram fiéis a si próprios, e isso repercutiu-se nos anos vindouros. 
 Não vale a pena sofrer-se eternamente e anular-se a si próprio apenas para se poder integrar e ter uma vida relativamente normal. Quem tem talento e mesmo assim não é bem aceite pelos outros não é de modo nenhum um coitado: é simplesmente um artista.
 Deste modo, sejamos rejeitados, sejamos diferentes. Sejamos ARTISTAS!

domingo, 16 de dezembro de 2012

Poeta



Desde a primeira batida de coração, Após o primeiro choro do recém-nascido,..



Desde a primeira batida de coração,
Após o primeiro choro do recém-nascido,
O Destino desenha o caminho escolhido
Nascendo assim o dom primordial, a vocação
Para um vida inteira de poética paixão.

Assim nasce um poeta de autenticidade,
Um eterno sonhador, paladino da verdadeira pureza,
Um pintor de imagens de sublime beleza
Sangrando palavras de crua intensidade,
Dotado de sabedoria, porém pleno de humildade.

O Poeta vive imerso em seu mundo,
Sua mente fervilhante de artística loucura,
Procurar entendê-lo e amá-lo ninguém procura,
Acompanhando-o em sua solitária existência,
Sendo incompreensível seu constante estado de demência.

É das suas entranhas que brotam poemas,
Lâminas aguçadas de uma vida de sofrimento,
Recordações que o torturam a cada momento,
Ser poeta é um dom de pura maldição,
Embebedar-se no amargo absinto da perdição.

As divinais obras apenas despertam luxúria
Entorpecendo as ideias do sonhador lunático,
Desbotado permanece seu ser triste, sorumbático,
Profanado pela ignorância da humanidade
Que o crucifica em suas teias de crueldade.

O Poeta é um ser venerado na morte
Após sua curta passagem pelo mundo,
Agoniza só, num silêncio negro, profundo,
E a Terra chorará amargamente o Profeta,
Uma vida com o Homem, uma eternidade sem o Poeta.

Sonhos

A neblina do tempo encontra-me acordada,  Prisioneira de uma vida indesejada...




A neblina do tempo encontra-me acordada,

Prisioneira de uma vida indesejada

Que me impede de sonhar livremente,

Enjaulando a aérea essência do meu ser,

Ah, se ao menos pudesse adormecer…



A chuva tamborila provocante lá fora,

Enquanto só penso em evadir-me, ir embora

Deste mundo pesado e de beleza ilusória,

Que me sufoca até meu interior ofuscar,

Ah, se ao menos eu pudesse escapar…



As horas escoam-se num ritmo exasperante,

Negando-me aquilo que me é mais importante:

A capacidade de sonhar sem limites,

O poder de voar leve como o vento,

Ah, se pudesse desaparecer por um momento…



Os grilhões do agora prendem-me ao chão

Sem que possa avançar na escuridão,

Os meus passos são silenciosos, ligeiros

Nas passagens que só eu posso percorrer,

Ah, quem me dera soçobrar e desfalecer...



O coração enlutado chora no meu peito

Na expectativa de repousar no doce leito,

Que é o mundo dos sonhos, das quimeras;

Pouco ou nada ao Mundo desejo pedir

Ah, se ao menos pudesse renunciar e fugir…



O Mundo está contra mim, revoltado

Porque em seu reino sonhar é pecado,

Se insistir em torturar-me toda a vida,

Então esses trilhos cruéis não quero ver,

Ah, se ao menos pudesse libertar-me e morrer!


Final


Correndo em círculos numa eternidade tangente, Pelos bosques da perdição, intermináveis em sua viçosa vegetação,...



Correndo em círculos numa eternidade tangente,
Pelos bosques da perdição, intermináveis em sua viçosa vegetação,
Os pés cansados sangram em sua fragilidade,
Respirar é um sacrifício pleno de infelicidade.
Quantos anos passaram desde o último sorriso sincero?
Quando a inocência era pura ignorância,
Os castelos que de oiro e prata se erguiam
Tornaram-se ruínas de pó e esquecimento.
O sangue brota das feridas que não fecharam
Nenhum  bálsamo ou milagre as cicatrizaram.
Para sempre sangrarão como memórias persistentes,
Gravadas no diário da vida com sangue,
O coração sangra ao descrever tristes memórias
De um passado pleno de empoeiradas histórias.
Vezes sem conta são recordadas com punhaladas de dor,
Um lenço de despedida que cedo perdeu a cor
Esvoaçou em ventos de tormenta
Até se tornar um farrapo, um pesadelo.
Tanto sofrimento reprimido com desvelo,
Contudo o coração não esquece,
Teimando em manter um mundo que se desvanece
A cada ansioso olhar pleno de saudade.
Chove sobre as páginas manuscritas por mãos trémulas
Que com o tempo ficam enrugadas, inutilizadas pela decadência.
O espírito desfalece num estado de dormência
Ao som de uma sonata plena de amargura,
Uma lenta e calma ascensão à loucura,
Descendente em direcção à abençoada demência
A bendita incapacidade de relembrar o que mais magoava
E de recitar o poema que mais torturava.
A folhas de Outono caem num gracioso fluir
Aterrando sem som, num solo sagrado e pleno de triste candura;
O fim chega com um sonante contudo etéreo requiem à existência
Quando perfumadas flores aterram sobre a eterna sepultura.

Lágrima



A distância enfraquece os laços de ternura, Torna amargo o doce sabor da doçura,...


A distância enfraquece os laços de ternura,
Torna amargo o doce sabor da doçura,
A terra molhada absorve as lágrimas do céu
Neste vale de sentimentos existe um mausoléu.

O orvalho cai lentamente,
Afagos melancólicos que choram suavemente,
São lágrimas de cristal essas vertidas,
Pesadas pela dor de não as saber verter.
Lágrimas de puro pesar, pura melancolia,
Inundadas pela crueldade da luz do dia.

Cedo o rio de dor transborda,
Tarde a emoção de sentir acorda,
Um inútil despertar num triste momento,
Quando o que dói cá dentro é o sentimento.

Não te vás, espera-me nessa margem
Do afluente que nos separa numa triste imagem,
Nossos reflexos tremeluzem em ondas de saudade,
Pois nossas mãos não se podem tocar.
Erguemos uma mão num paralelo adeus eterno,
Nossas lágrimas cristalizam neste frio Inverno.

Meu anjo de asas brancas, que sentes?
Sei que por pureza nunca enganas ou mentes,
Ao invés de ti é o vento gelado que me abraça,
O lúgubre pranto do céu prenúncia desgraça.

O Esplendor da Noite


No silêncio mais profundo, pleno de gritos silenciados, Arde uma vela cujos pingos de cera sangram,


No silêncio mais profundo, pleno de gritos silenciados,
Arde uma vela cujos pingos de cera sangram,
Seu brilho é débil, contudo intenso em seu eplendor,
Protegida na penumbra de sombras sem cor
Num templo que acolhe a sua poderosa insignificância.

Os raios de luar não alcançam as profundezas,
O céu estrelado exibe-se apenas no alto,
Luminescências no firmamento cor de cobalto.

Num jardim nocturno as flores adormecem,
Os lagos invadidos pelo lodo evocam decadência,
Nas margens abundam como dedos enregelados os lírios,
Envenenados por nocturnos, fragrantes delírios,
Contratando com flores-de-lótus que emergem da lama.

Os raios de luar não alumiam os trilhos,
Dos caminhantes que erram pela noite,
O vento chicoteando como cruel açoite.

A brisa nocturna evoca memórias turvas,
De vidas passadas contudo omnipresentes,
Evocam tempos de pesadelos medonhos,
Filtrados pelos véus dos misteriosos sonhos,
A fuga apenas leva a novas ruínas.

Os raios de luar alumiam a escuridão,
Revelando o que se esconde nas rochas,
Incendiando a fealdade oculta como tochas.

Os murmúrios que povoam a noite provocam,
Pretendem assustar qualquer ser de luz alimentado,
Despedaçam a falsa sensação de segurança,
Empurram as vítimas para cemitérios despidos de esperança,
Onde os mausoléus da desventura evocam a soturna eternidade.

Os raios de luar queimam e congelam,
Fazem sangrar as feridas cicatrizadas,
Que por ácidas lágrimas se vêem reveladas.

A Vida é um Mero Sopro


O templo da vida deteriora-se com o tempo, Passos ecoando pelas suas lajes marmóreas, recordações,...



O templo da vida deteriora-se com o tempo,
Passos ecoando pelas suas lajes marmóreas, recordações,
Memórias que desfilam pelas rugas de horas perdidas,
Correntes rebentadas pelo vendaval das emoções
Que se arrastam e sufocam por um momento
Lágrimas essas bandeiras negras adejando ao vento.

No sacrário da existência corre o sangue,
Elixir interior que bombeia pelas veias da juventude
Até enfraquecer e empalidecer na decadência dos dias,
Alcançando a idade da sabedoria, da plenitude,
Contudo ao final do trilho espinhoso ninguém anseia chegar,
O domínio do medo algo difícil de controlar.

A vida é leve, passageira como um sopro,
Tragada por um vento poderoso e sem idade,
Imprevisível ao surgir e carregado de escuridão,
Um eterno ciclo que sussurra os salmos da verdade,
Uma cripta jamais avistada por olhos ainda intactos,
Imaginada, plena de conjecturas e incertos factos.

A vida é um sopro suave e mutante
Protegida por uma campânula de cristal,
Cintilante sob o sol de uma breve Primavera
Cedendo á corrupção do Outono e ao Inverno glacial,
Fissuras que invadem dissimuladamente o santuário,
Cedendo sob a espada ferrugenta da Morte, o derradeiro sudário.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Donzela Solitária


 Num dia de vento suave e cintilante Primavera, A donzela passeia por seus jardins luxuosos,...



Num dia de vento suave e cintilante Primavera,
A donzela passeia por seus jardins luxuosos,
Por seu príncipe encantado espera,
Escrevendo poemas saudosos.
Mas ele nunca chegará,
Apenas o fantasma de um amor
Que nunca a abraçará.
Ela segura sonhadora uma bela flor,
Contudo seu odor não a alegrará,
Tanta riqueza e formosura só lhe causava dor,
Uma vida de felicidade fingida um dia acabará.
Fechada a sete chaves grande parte do dia,
Apenas verá pela janela um pedaço de jardim,
Sem poder escutar o canto da cotovia,
Desejando que tudo tivesse um fim.
Fora de sua prisão de cristal,
Tudo seria mais quebradiço e frágil,
Uma simples queda seria deveras mortal,
Contudo preferível a um mundo ágil,
Repleto de bailes sem sentido,
Danças de pura hipocrisia,
Alguém elogiando seu nobre vestido,
Mas ninguém para dali a levar.
Ela queria ser uma ave
Para muito longe voar,
Planando em nuvens de branco suave,
Esquecida de cruel humanidade
Que ao cárcere a condenou.
Num dia de maior liberdade

A donzela de um muro se atirou.

Cavaleiro Negro

Por montes e vales ele galopa velozmente, Uma mancha negra num verde intenso e silvestre,...


Por montes e vales ele galopa velozmente,
Uma mancha negra num verde intenso e silvestre,
Desafiando os deuses e os antepassados ele vagueia,
Desdenhando a estabilidade de um mundo seguro,
Incansavelmente ataca, mata e guerreia,
Um brilho no olhar sob o elmo de ódio puro.

Seu coração é negro como o escuro ébano,
Tão sombrio e temível como sua armadura,
Poucos são os que viveram para contar a história,
De um homem que nunca se contentou com pouco,
Eternamente castigado por sua apurada memória,
A cada dia tornando-o cada vez mais louco.

Não há nada mais perigoso que um homem,
Que não tem mais nada a perder ou temer,
O passado será tenebroso e assombrado,
Mas o presente será isento de medo e piedade,
Não haverá ninguém mais temido e odiado,
Que um perigoso assassino cavalgando em liberdade.

Sua capa negra são asas de morcego esvoaçantes,
Seu cavalo uma besta forte e veloz,
Sua espada contém reflexo de mil invernos,
Fria, cortante e de sangue sedenta,
À noite é uma visão medonha dos infernos,
Contudo não de beleza e encanto isenta.

Seus olhos são negros como ferro em brasa,
Seus braços fortes como rochas centenárias,
Esguio e gracioso como um belo salgueiro,
Ainda simplesmente uma criança para o mundo ancião,
Contudo um velho em seu espírito obscuro e matreiro,
Um amante que só sabe matar com paixão.

Só a plena solidão poderia guardar seu segredos,
De um homem que só soube amar demais,
Um olhar que o cativou num fugaz momento,
Deixando-o à mercê do romantismo, um tolo até à eternidade,
Um amor assim levou-o a um eterno tormento,
Sua dama se esfumou, seu coração ficou pela metade.

Sem nunca descobrir quem a matara cruelmente,
O amante destroçado foi condenado à obsessão,
Incapaz de encontrar o verdadeiro culpado,
Inventava um mesmo onde não o havia,
Atacando pela noite dentro como um monstro libertado,
Alguém seria encontrado destroçado quando amanhecia.

Em todos os seus dias de luto e pesar,
O cavaleiro ao crepúsculo no chão se ajoelhava,
Seu rosto pálido e de lágrimas de saudade manchado,
Não se desviava de um local com uma cruz atravessada,
Lembrando o sangrento corpo que por ele foi sepultado,
O corpo de sua chorada donzela, tão amada.

Para sempre um vulto haveria de vaguear,
Por montes e vales em plena escuridão,
Um fantasma deambulando sem rumo nem destino,
Vingando sua amada com sua errante assombração,
Incansável, rompendo a espessa névoa de velino,
Um louco, uma alma penada que outrora tivera coração.

Desencanto


Silêncio, É tudo o que se encontra Nesta soturna floresta encantada...



Silêncio,
É tudo o que se encontra
Nesta soturna floresta encantada
Tão bela e há muito enfeitiçada
Pelos druidas que se prostravam em oração.

Solitária,
Sob as árvores ela caminha
Coberta pelas catedrais verdes de sua folhagem
Seu cabelo é afagado pela suave aragem
Que descomprime seu peito choroso.

Ajoelhada,
Encolhendo-se em seu manto de veludo
Ela contempla o lago profundo e misterioso
Espelhando seu rosto belo, amoroso
Sua vastidão vazia começa a alarmá-la.

Preocupada,
Desesperada por ter companhia
A donzela volta a estender sua mão
Sua palma cheia de migalhas de pão
Pela chegada dos cisnes ela espera.

Arrefece,
O ar torna-se outonal
A água agita-se num silencioso aviso
Empalidecendo seu triste sorriso
De pobre jovem enlouquecida.

Desesperada,
Ela sacode seus loiros cabelos
Lava suas mãos na água fria
Ignora a forte rajada de magia
Que a obriga a partir.

Desolada,
A jovem corre e tropeça
Perdendo um sapato pelo caminho
Mas ela não recua, desolada e sem carinho
Suas faces molhadas por lágrimas de cristal.

Assustada pela visão de um fantasma
Ela tropeça e cai de cabeça
Seu crânio esmagado numa pedra afiada
Deixando sua cabeça loira ensanguentada
Um sacrifício em honra dos deuses.

Anoitece lentamente
Ouvem-se choros ao longe
Uma figura descalça surge no lago gelado
Sua beleza eclipsada por seu crãnio destroçado
Amargas lágrimas derretem a vegetação em seu redor.