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domingo, 27 de janeiro de 2013

Um Adeus sob a Cerejeira








Visualizo cada memória que surge, lenta e suavemente,
A cada cair das pétalas das flores da cerejeira
Recordo o amor que surgiu calma e docemente
Quando a luz do sol em oiro se desfez
E os raios de luar floriram como o Lotus.

Revivo a cada segundo que passa, lento e doloroso
Os olhares que trocamos, incendiados de paixão,
A neve que caía graciosa naquele Inverno rigoroso
Em que nos encontrámos como ventos contrários,
Porém gémeos na intensidade do seu soprar.

Sentia medo dos perigos que meu destino assombrava
Por vezes mitigado pela tua protecção, sólido rochedo,
Perfeitos eram os momentos em cada gruta que nos abrigava
Até um novo amanhecer pleno de aventuras e promessas,
Naquela longa caminhava que nossos pés em chaga deixava.

Quando o mal ao nosso encontro vinha, inesperado,
Ofuscante era o brilho da tua espada cortante,
Cada movimento, cada golpe mortífero e controlado
Anunciava que eras um guerreiro pelos deuses escolhido
Que mil vezes te amaldiçoaram pela tua força.

Juntos vimos nossos rostos em lagos cristalinos reflectidos
Como perguntas mudas a um futuro fadado e incerto,
Juntos ficamos cegos pela força dos sentidos
Que nos juntava e separava a cada minuto,
Como as ondas do mar a embater nas rochas.

Juntos cavalgámos pelos prados de verde tecidos
E cruzávamos espadas numa luta a fingir,
Vimos os avisos nos carvalhos sábios e ressequidos,
No esvoaçar de suas folhas secas ao cair
Como o tempo que escoava na ampulheta da Vida.

Juntos cantámos hinos de dor e despedida
À beira da fogueira que mal aquecia nossos corpos,
O frio que nos assolava era morte e era vida,
Recordando-nos de quão breve era a estada
Num mundo onde os deuses brincam com nossas almas.

Agora jazo neste chão de pétalas, saudosa e triste
Com o carmim do sangue a manchar minhas vestes,
Despedimo-nos e logo teu inimigo com sua espada em riste,
Rasgou o meu ventre, terminando uma vida que nem começara
E deixando-me a agonizar, perdendo as forças aos poucos.

O vento consigo levará minhas últimas palavras murmuradas
E a terra tragará meu corpo que nela se fundirá,
Não regresses, por favor, com mil lágrimas amarguradas
E recorda com alegria as dádivas que partilhámos,
Nas águas serenas de um lago lá estarei
E quando a pálida lua emergir, de lá te olharei.