Correndo em círculos numa eternidade tangente,
Pelos bosques da perdição, intermináveis em sua viçosa
vegetação,
Os pés cansados sangram em sua fragilidade,
Respirar é um sacrifício pleno de infelicidade.
Quantos anos passaram desde o último sorriso sincero?
Quando a inocência era pura ignorância,
Os castelos que de oiro e prata se erguiam
Tornaram-se ruínas de pó e esquecimento.
O sangue brota das feridas que não fecharam
Nenhum bálsamo ou milagre as cicatrizaram.
Para sempre sangrarão como memórias persistentes,
Gravadas no diário da vida com sangue,
O coração sangra ao descrever tristes memórias
De um passado pleno de empoeiradas histórias.
Vezes sem conta são recordadas com punhaladas de dor,
Um lenço de despedida que cedo perdeu a cor
Esvoaçou em ventos de tormenta
Até se tornar um farrapo, um pesadelo.
Tanto sofrimento reprimido com desvelo,
Contudo o coração não esquece,
Teimando em manter um mundo que se desvanece
A cada ansioso olhar pleno de saudade.
Chove sobre as páginas manuscritas por mãos trémulas
Que com o tempo ficam enrugadas, inutilizadas pela
decadência.
O espírito desfalece num estado de dormência
Ao som de uma sonata plena de amargura,
Uma lenta e calma ascensão à loucura,
Descendente em direcção à abençoada demência
A bendita incapacidade de relembrar o que mais magoava
E de recitar o poema que mais torturava.
A folhas de Outono caem num gracioso fluir
Aterrando sem som, num solo sagrado e pleno de triste candura;
O fim chega com um sonante contudo etéreo requiem à
existência
Quando perfumadas flores aterram sobre a eterna sepultura.
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